Aos 13 anos, Werá Jeguaka Mirim visitou a Arena Corinthians a fim de representar a população indígena. Era o primeiro jogo do Brasil na Copa de 2014. O jovem deveria soltar uma pomba branca antes da partida. No entanto, driblou a segurança, posicionou-se em frente às câmeras e estendeu uma faixa com os dizeres “Demarcação já”.
O rapaz continua defendendo essa e outras ideias do tipo, mas em ritmo de rap. Aos 17, usa o nome artístico Kunumí MC para fazer rimas sobre a cultura indígena e a necessidade de proteger áreas como a Aldeia Krukutu, onde mora desde a infância, no extremo sul da capital.
Passou a transformar suas poesias em música há dois anos. O álbum de estreia, My Blood Is Red, foi lançado em junho na web (seu principal canal de divulgação) pela gravadora inglesa Needs Must Film. O disco tem seis faixas, entre elas Tentando Demarcar e Nunca Desistir, com letras em português e guarani.
Uma das inspirações do menino, o cantor Criolo soube de seu trabalho e o procurou para uma parceria. Surgiu, assim, a faixa Terra, Ar, Mar, que deve ser lançada no ano que vem.
Terceiro filho de Olívio Jukupé, escritor com mais de quinze títulos editados, Werá publicou dois livros em 2014: Contos dos Curumins Guaranis (FTD) e Kunumi Guarani (Panda Books). “Os indígenas sabem contar histórias, mas muitas vezes não seguem na escrita por causa do preconceito”, afirma.
O rapper faz shows esporádicos em espaços como o Sesc Pompeia. De manhã, frequenta a escola na aldeia vizinha, a 5 quilômetros de sua pequena casa de chão de terra batida. Durante a tarde, reveza-se com a esposa, Kamilla, 20, nos cuidados com o filho Christian Erick, de 10 meses. Nos fins de semana, ensaia para as apresentações, joga bola na quadra da aldeia e assiste a partidas do Corinthians, seu time do coração.
Redação/Rádio Terena