O professor e líder indígena Marcondes Namblá Xokleng, de 38 anos, morreu no primeiro dia do ano vítima de espancamentos com um bastão de madeira numa rua de Penha, um município no litoral de estado brasileiro de Santa Catarina.
Esta quinta-feira, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), uma organização não-governamental ligada à Igreja Católica do Brasil, disse, em comunicado, que o homicídio é fruto da intolerância e do racismo contra os índios do país.
“O Cimi Sul vem alertando, ao longo dos últimos anos, sobre a onda de intolerância contra indígenas no litoral de Santa Catarina, especialmente manifestada por autoridades municipais que não aceitam o fato de os indígenas frequentarem as praias”, afirmou o órgão.
A organização liderada por bispos católicos acrescentou que “quando os prefeitos, conselheiros, secretários municipais e alguns meios de comunicação divulgam informações ou fazem discursos contra os índios, uma boa parte da população sente-se legitimada para atacar os índios”.
Membro do grupo étnico Laklanõ-Xokleng, que ocupa uma reserva no Vale de Itajaí, no interior de Santa Catarina, o índio assassinado tinha viajado para a Penha com outros indígenas para aproveitar a aglomeração de banhistas durante a época festiva e vender artesanato feito pelo seu povo para angariar fundos para uma escola na sua aldeia.
Marcondes Namblá Xokleng era casado, tinha cinco filhos e trabalhava como professor especial para indígenas da Universidade Federal de Santa Catarina. Foi espancado repetidamente por um homem que estava com um cão a andar de um lado para o outro num passeio, segundo imagens obtidas pela polícia local.
“Nós temos um suspeito e já recebemos várias testemunhas do que aconteceu, poderemos fechar a investigação com o autor identificado”, disse Douglas Teixeira Barroso, o delegado da polícia responsável pelo caso.
A organização que defende os indígenas brasileiros, no entanto, assegura que o motivo é o racismo e associou o crime a outro que também aconteceu em Santa Catarina a 30 de dezembro de 2016, quando um filho indígena da etnia Kaiangang de apenas dois anos foi decapitado por um estranho no momento em que era amamentado pela sua mãe.
“Alguns dirão que não há relação entre os dois crimes, mas o Cimi, que acompanha os povos indígenas, suas lutas e desafios, tem denunciado que a intolerância aumentou significativamente nos últimos anos”, disse a organização. “As manifestações (racistas) são reproduzidas em redes, especialmente na Internet, em alguns jornais e alguns programas de rádio e televisão, ferramentas que infelizmente acabam sendo usadas para incentivar o ódio contra índios, negros e estrangeiros de países mais pobres”, acrescentou a nota.
Para o Cimi, os dois crimes estão relacionados com o contexto de intolerância étnica e anti-indígena propagada mesmo por algumas autoridades da região sul do Brasil.
O Cimi pediu também ao Ministério Público Federal e ao Ministério da Justiça que promovam um diálogo com as autoridades municipais, especialmente nas cidades da costa de Santa Catarina.
Redação/Rádio Terena