Líder indígena é candidata à vice-presidência brasileira

Sonia, de 43 anos, é uma líder indígena, membro do setor ecossocialista do PSOL desde 2011, altura em que abandonou o PT

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Candidatura de Sonia Bone Guajajara vai ser anunciada pelo PSOL, como número dois de Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Sem Teto, que concorre ao Planalto

O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) vai ter uma lista de “esquerda puro-sangue”, como diz um dos seus dirigentes, a concorrer às eleições presidenciais de outubro no Brasil: além de Guilherme Boulos, o candidato a presidente da República que lidera o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, a concorrente ao cargo de vice-presidente será Sonia Bone Guajajara.

Sonia, de 43 anos, é uma líder indígena, membro do setor ecossocialista do PSOL desde 2011, quando abandonou o Partido dos Trabalhadores desiludida com a aliança de Lula da Silva e Dilma Rousseff com Roseana Sarney, filha de José Sarney e militante do Movimento da Democracia Brasileira, no governo do Maranhão. Natural daquele estado do Nordeste do Brasil, cresceu na Terra Indígena Araribóia, entre a tribo Guajajara-Tentehar, formou-se em Letras e pós-graduou-se em Educação na universidade estadual local, mesmo filha de pais analfabetos. É casada e mãe de Luiz Mahkai, Yaponã e Y”wara.

Coordenou organizações dos povos indígenas no Maranhão, primeiro, e em todo o Brasil, depois, o que a tornou notada pelas classes política e artística. Em 2010, entregou a Katia Abreu, presidente da Confederação de Agricultura e Pecuária que mais tarde integraria o segundo governo de Dilma, o prémio negativo “Motosserra de Ouro”, por dizimar áreas florestais em favor da exploração agrícola e tentar enfraquecer o Código Florestal.

Em 2015, fez Marina Silva, cujas causas herdou em parte, usar uma camisa com escritos contrários a uma proposta de emenda que diminuía os territórios indígenas. No Carnaval de 2017 desfilou no sambódromo com pinturas indígenas ao lado da atriz Letícia Sabatella e no festival Rock in Rio do mesmo foi chamada ao palco pela cantora norte-americana Alicia Keys, a meio da interpretação de Kill Your Mama, tema que denuncia a devastação do planeta.

Outros artistas, como o casal Caetano Veloso e Paula Lavigne, apoiam a lista escolhida pelo PSOL. Ao falar numa entrevista sobre uma banda de que gostou, os Baiana System, o músico disse que “soavam como se Boulos tivesse sido eleito presidente e Sonia Guajajara vice – e seu mandato estivesse dando certo”. Lavigne, que tem reunido em sua casa políticos de esquerda para discutir alternativas nas eleições, disse ao jornal Folha de S. Paulo que está “superdentro dessa lista que concentra o maior número de causas que a gente defende”.

A candidatura de Guajajara surgiu por sua própria iniciativa, ao escrever uma carta aberta onde se apresentava como candidata à presidência. “Aos poucos fomos nos dando conta de que havia uma oportunidade histórica de ver a nossa agenda inserida no debate (…) ocupamos as redes sociais mas nem por isso deixamos de sofrer racismo, ver as nossas lideranças serem assassinadas, a juventude sem perspetivas, os territórios invadidos ou entregues aos grandes agricultores e pecuaristas”, escreveu.

Boulos, que não pertence ao PSOL mas será apoiado pelo partido, gostou da ideia e convidou-a a participar da sua lista, cuja confirmação está marcada para dia 10. “Tudo caminha para Sonia ser a vice”, confirmou Marcelo Freixo, que perdeu as eleições pelo partido para a prefeitura do Rio de Janeiro para o bispo evangélico Marcelo Crivella.

O presidente do PSOL no Ceará, Ailton Lopes, é um dos mais entusiastas defensores da dupla Boulos-Guajajara: “A Sonia fará um outro debate, diferente do modelo do consumo e produção, com a economia ao serviço do povo e não o contrário”, afirmou, ouvido pelo jornal O Povo. “Os povos indígenas foram dizimados no Brasil e na América Latina, restou um número muito pequeno que ainda resiste, às vezes em troca da própria vida”, finalizou.

Em intervenções na imprensa, Sonia considerou Temer “golpista”, afirmou que com o tempo “Marina Silva se distanciou” do papel de ambientalista e defendeu a participação de Lula nas eleições de outubro “em nome da democracia”.
Na política brasileira, a nível nacional, só há registo de um deputado indígena. Mário Juruna, que nasceu e cresceu numa tribo xavante do Mato Grosso até aos 17 anos sem contacto com a população branca, foi eleito em 1982, pelo Partido Democrático Trabalhista. Terminou o seu mandato em 1986 e não voltou ao Congresso Nacional.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, vivem hoje no Brasil perto de 900 mil indígenas, cerca de 60% deles em áreas rurais, de 240 povos, em cerca de 0,47% do território do país.

 

Redação/Rádio Terena

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