BRASÍLIA – Com o semestre letivo praticamente no fim, o Ministério da Educação (MEC) ainda não abriu as inscrições para bolsas voltadas a indígenas e quilombolas carentes que estudam em universidades federais. A seleção costuma ser aberta duas vezes ao ano, no início de cada semestre — de março a abril e de agosto a setembro. Mas, em 2018, ainda não houve oferta de novas bolsas, no valor de R$ 900 por graduando por mês. Cerca de 7 mil indígenas e 10 mil quilombolas selecionados nos anos anteriores, segundo o MEC, estão com os auxílios mantidos.
Uma comissão de representantes de estudantes indígenas e quilombolas de várias universidades federais foi recebida na última terça-feira à noite, dia 29, pelo ministro da Educação, Rossieli Soares, que prometeu a abertura de 800 bolsas este ano. Ele não deu, porém, uma previsão de quando a seleção será aberta.
No entanto, a proposta não foi aceita pelo grupo de estudantes, que considera o quantitativo abaixo do necessário e teme a interrupção das bolsas já concedidas. O argumento para a demora na seleção, bem como para o limite de 800 novos auxílios, foi a falta de recursos, segundo os alunos presentes no encontro.
De acordo com Eliane Rodrigues Putira Sacuena, uma das líderes que participaram da reunião, somente na Universidade Federal do Pará (UFPA) há aproximadamente 500 alunos indígenas e quilombolas que precisam do auxílio, chamado de Bolsa Permanência. Ela aponta que, apenas neste semestre, 73 indígenas ingressaram na instituição e correm o risco de ter que abandonar os estudos caso não recebam a assistência do MEC.
— Abrir 800 bolsas para o Brasil inteiro enquanto só na Federal do Pará você tem 500 pessoas precisando mostra como essa proposta é inaceitável. Indígenas já se formaram, quilombolas já se formaram, e essas bolsas estão ficando sem uso — reclama Eliene, biomédica que teve bolsa durante a graduação e hoje faz mestrado.
ESTIMATIVA É DE QUE 2,5 MIL ESTUDANTES PRECISEM DO AUXÍLIO
Os representantes dos estudantes decidiram fazer um levantamento para identificar com precisão qual é a necessidade de bolsas, mas estimam que 2,5 mil estudantes necessitem do auxílio. Frei David Santos, da ONG Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes (Educafro) que esteve na reunião com o governo, também protestou contra o “descaso” do MEC com a população indígena e quilombola.
— É um absurdo cortar bolsa de indígenas e quilombolas, que precisam do recurso para morar e comer. Por que não cortam o auxílio-moradia dos políticos e servidores, que têm emprego e podem pagar suas contas? — questiona o frei.
Em nota, o MEC afirmou que “vem debatendo com as representações indígenas e quilombolas a abertura do sistema para novas inscrições, que já tem garantida 800 novas bolsas”. Mas não informou o motivo da demora na abertura das novas inscrições este ano.
A pasta assinalou ainda que “está mantendo e pagando regularmente e em dia as bolsas para os todos os estudantes inscritos no Programa, que totalizam mais de 20 mil estudantes. Destes, são aproximadamente 3 mil quilombolas e mais de 7 mil indígenas”.
Com informações o globo