Espetáculo conta a verdadeira história da colonização indígena fazendo reflexão sobre o massacre dos índios tupinambás

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Foto: Divulgação

A história oficial, aquela que a gente aprende na sala de aula, é sempre contada pela ótica dos vencedores. Assim foi com inúmeros povos, como negros e indígenas, que tiveram sua cultura (e sua dignidade) massacradas no processo de colonização do Brasil. “É uma história mentirosa porque trata apenas de um lado”, diz o carioca Marco André Nunes, diretor do espetáculo Guanabara Canibal, que desembarca, nesta terça-feira, 10, no Festival Internacional de Teatro de Rio Preto.

Último espetáculo de uma trilogia da Aquela Cia. de Teatro que se debruça sobre a história do Rio de Janeiro, Guanabara Canibal propõe uma reflexão sobre o massacre dos índios tupinambás, tendo como norte a Batalha de Uruçumirim, ocorrida em 1567. Com texto assinado por Pedro Kosovski, o espetáculo questiona, além do extermínio da população indígena durante uma guerra injusta travada com os colonizadores portugueses, qual a representatividade hoje dos primeiros habitantes do Brasil.

Segundo o diretor, quando o processo de Guanabara Canibal foi iniciado, a primeira lembrança que veio em sua mente era dele vestido com uniforme do colégio, nos final dos anos 1970, aprendendo uma “história mentirosa” na sala de aula. Mentirosa porque, durante a colonização do País, os índios eram considerados inimigos, enquanto que os europeus foram desenhados como verdadeiros heróis.

“Pela história que aprendemos, a gente se identificava com os portugueses e não com os índios exterminados, pois eles eram os inimigos e foram eliminados como num faroeste norte-americano. No entanto, estamos culturalmente muito mais próximos dos índios do que dos europeus”, destaca Nunes em entrevista ao Diário.

Assim como as duas primeiras partes da trilogia, a pesquisa para a última peça teve como proposta uma revisão crítica da narrativa histórica e colonial da fundação do Rio de Janeiro. As fontes para a concepção do espetáculo passam por textos e crônicas do século XVI sobre o Brasil, de autores como Jean de Lery, André Thévet e José de Anchieta.

“Essa é a primeira vez que trabalho com fatos históricos. No teatro, já montei grandes autores e também explorei um universo mais pop. Mas tinha o interesse de falar do meu entorno, e pensar o momento pelo que vivemos no momento é difícil”, declara. Para ele, voltar ao passado é uma estratégia para enxergar melhor o presente.

Nesse exercício de voltar os olhos ao passado para compor sua trilogia teatral, a companhia carioca constatou que muito dos problemas que marcam a dinâmica social na atualidade já ocorreram anteriormente no País com potência e como fato concreto. A primeira montagem, Cara de Cavalo, de 2012, é baseada na história de um personagem real que, durante a ditadura, recebeu da mídia o rótulo de “inimigo número um da Guanabara”, após ser acusado pelo assassinato de um policial. 

Já a segunda peça da trilogia, Caranguejo Overdrive (2015), é sobre um homem simples que trabalhava no mangue carioca e foi sequestrado pelo Exército, sendo enviado para a Guerra do Paraguai. Dispensado após um colapso nervoso, ele retorna ao Rio de 1870. Sua cidade natal, porém, está irreconhecível aos seus olhos, devido às obras de saneamento que dariam origem ao Canal do Mangue. “Barão de Mauá acabou com o mangue no Rio por meio de uma obra superfatura, que conecta o passado com o presente político que temos hoje, marcado pela corrupção.”

Em um festival que se propõe questionar as contradições de um tempo em mutação, Guanabara Canibal evidencia o quão importante é entender os fatos históricos do País para se ter uma participação política mais efetiva na sociedade. Essa questão se torna ainda mais evidente quando vemos, em manifestações populares e nas redes sociais pessoas, pessoas pedindo a volta da ditadura militar, por exemplo. “São pessoas que não viveram essa época, não estudaram sobre e não tem a menor ideia do que se trata”, sinaliza.

Serviço

  • Guanabara Canibal, da Aquela Cia. de Teatro. Hoje e amanhã, às 19h, no ginásio do Sesc Rio Preto (Av. Francisco das Chagas Oliveira, 1333). Ingressos: R$ 5 a R$ 15

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