“Em condição boa, já chegamos a R$ 4.000 por mês, e agora a gente espera voltar nessa média”. A afirmação, do indígena Claudio Spindola, morador da casa 498 na aldeia Bororó, reflete o clima de expectativa que toma conta dos habitantes da Reserva Indígena de Dourados com os resultados almejados a partir do programa ‘Terra Produtiva’, que mudou a realidade das comunidades Guarani e Kaiowá.
Claudio cuida de uma área onde cultiva mandioca e milho, juntamente com a esposa, Graciela Amarilha e os filhos Clodeir, de 19 anos, atualmente cursando Educação Física na Unigran e Karen, de 12, estudante do 5º. ano na escola do Augustinho. O excedente do milho ajuda na criação de galinhas, cuja comercialização também contribui para complementar a renda familiar.
Taleo Rolim é outro exemplo de dedicação com a cultura da mandioca. Atualmente, antes da chegada do programa que envolve as Secretarias de Agricultura Familiar e Assistência Social do Município, a Ceaid (Coordenação Especial para Assuntos Indígenas) e até o Exército Brasileiro, ele produzia, em média, de 5 a 6 toneladas de mandioca, a maioria comercializada na feira-livre de Dourados.
Após o ‘Terra Produtiva’, a estimativa é que a área cultivada com a rama de mandioca possa resultar em uma produção de 1500 toneladas. Também está sendo estimulado o plantio de milho, abóbora, melancia, maxixe e outras cultivares, de acordo com a vocação familiar e respeitando a cultura alimentar indígena.
O secretário de Agricultura Familiar da Prefeitura, Marcos Roberto Soares, destaca o ineditismo dessa proposta e elogia a força-tarefa que envolve mais de 500 famílias na etapa ‘Comunidade em Ação’, que visa preparar em torno de 50 hectares por dia de uma área total estimada em cerca de 250 hectares que compreende essa primeira fase do projeto. Técnicos da Funai reconhecem que é a primeira vez que ocorre mobilização desse porte no interior da aldeia.
As famílias atendidas nessa força-tarefa foram selecionadas pelos agentes de saúde da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) e técnicos do Cras (Centro de Referência de Assistência Social) da aldeia indígena e, nesses primeiros cinco dias do programa, mobiliza 10 tratores agrícolas e implementos.
DESAFIO ASSUMIDO
O ‘Terra Produtiva’ foi pensado a partir dos estudos realizados pelo Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional), em conjunto com a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), após visitas realizadas, em 2016, à Reserva de Dourados, quando foi diagnosticada, no fator considerado como violação de direitos, a perda gradual da cultura alimentar, com a quantidade insuficiente de alimentos distribuídos nas cestas que eram entregues aos indígenas, resultando na ocorrência de perda de peso em relação à idade, especialmente entre as milhares de crianças das aldeias.
Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar, melhorar as condições nutricionais e promover a agricultura sustentável é o principal desafio do Objetivo 2 na elaboração da agenda da ONU (Organização das Nações Unidas) que definiu, entre os 17 ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável), a erradicação da pobreza no planeta, em todas as suas formas e dimensões, para os próximos 15 anos. “Estamos fazendo a nossa parte nessa tarefa, porque nesta administração os indígenas são tratados como fator de integração com a comunidade”, defende a prefeita Délia Razuk.
Douradosagora