Primo de indígena morto em confronto diz que parentes foram enganados e que outro índio planejou ataque em MT

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Terra Indígena Kawahiva do Rio Pardo está localizada em Colniza (MT); foto tirada em 2015 — Foto: Jair Candor/Funai

O presidente da Associação do Povo Indígena Tenharin do Igarapé Preto (Apitipre), Cleudo Alves de Souza Tenharin, explicou, por meio de nota, o que realmente aconteceu em um confronto entre indígenas e funcionários da Fundação Nacional do Índio (Funai), na quarta-feira (10), em Colniza, a 1.065 km de Cuiabá.

O Funai informou nesta terça-feira (16) que nao vai se posicionar sobre o assunto.

No confronto, um índio morreu e outro foi baleado e permanece internado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em um hospital de Juíza, a 737 km de Cuiabá. Procurada, a Funai afirmou que contribui e acompanha as investigações.

Conforme Cleudo, foram a má fé e a mentira que tiraram a vida de Erivelton Tenharin, de 43 anos, e quase ocasionaram a morte de Cleomar Tenharin.

“Sabemos que esse conflito foi forjado por inimigos da causa indígena e que nossos parentes caminharam inocentemente para uma armadilha, e só o fizeram porque acreditam no direito básico de todo povo indígena ter sua terra demarcada”.

Ele explica que um indígena conhecido por Arara fez uma reunião com as lideranças do Igarapé Preto dizendo que precisava fazer um trabalho de manifestação, em uma região conhecida como “Guariba”, com o objetivo de pedir a demarcação de uma terra.

“Por se tratar de uma reivindicação política e por ele pedir apoio de parceiros, principalmente indígenas, o nosso pessoal (sempre solidário com os demais parentes indígenas), se prontificou a ajudá-lo, desde que fosse uma manifestação pacífica. Então, ficou acertado que ele daria o apoio logístico e mandou um carro até o Igarapé Preto e levou os seis parentes”, explica o líder indígena.

Polícia faz a segurança na região — Foto: PM-MT/ Divulgação
Polícia faz a segurança na região — Foto: PM-MT/ Divulgação

Arara teria pedido para que as pessoas presentes se pintassem. Em seguida, ele teria dito que seguiriam para a aldeia fazer a manifestação lá. “Ninguém sabia que na realidade eles estavam indo para a Base da Frente de Proteção dos indígenas isolados, a Base Madeirinha/Juruena. Então, por volta de 19h, eles saíram de Guariba e foram para o local. E chegaram por volta de 21h”, explicou.

Ao se aproximar do local, cerca de 300 metros, eles teriam ouvido tiros, mas acharam que eram foguetes já que geralmente é assim que os convidados são recebidos nas aldeias.

“Todos estavam inocentes, não sabendo o que estava acontecendo. Quando se aproximaram cerca de 150 metros, eles só viram o pessoal atirando neles. O povo começou a atirar em cima do carro. Logo atingiram o Erivelton. E, em seguida, o tiro atingiu o Cleomar. Eles tentaram salvar a vida deles, resgataram o corpo e saíram com ele nas costas. Nesse momento era cada um por si tentando salvar sua vida. Era muita correria por causa dos tiros. Crianças correram para a mata. E o pessoal estava inocente na situação”, disse o líder indígena.

O conflito

Segundo o sargento da PM, os indígenas invadiram a sede da Funai depois de estourarem o cadeado de uma porteira.

“O chefe da Funai já vinha recebendo ameaças de morte e, inclusive, já tinha oficializado o crime. Os funcionários da Funai estavam sendo proibidos de passarem pela estrada dentro da reserva”, disse.

Conforme o policial, o coordenador da Funai estava assistindo TV quando ouviu um barulho de carro se aproximando do local e percebeu que se tratavam dos indígenas.

“Como já havia essas ameaças, os funcionários da Funai já estavam preparados e revidaram ao ataque, atirando contra eles”, disse.

Foram apreendidas oito armas de fogo que pertecem à Funai e entregues à Polícia Federal para perícia.

A segurança na reserva indígena está sendo feita pela Força Nacional e agentes do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Briga por território

Conforme o sargento da PM, a base da Funai fica em uma área de mais de 400 mil hectares, pertences a índios de duas etnias, uma delas a Kawariva.

O coordenador da Funai admitiu, segundo a polícia, que dispararam contra os índios.

Isolados

Referências sobre os Kawahiva no noroeste de Mato Grosso existem desde 1750. Desde então, diz-se que tiveram contato com eles desbravadores como Marechal Cândido Rondon e o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss.

A área foi delimitada em portaria da Funai publicada pelo Diário Oficial da União (DOU) somente em 2007, medida que automaticamente restringiu o direito de locomoção de não-índios pelo local.

Violência em terras indígenas

Em 2017, Mato Grosso registrou oito casos de violência contra o patrimônio em terras indígenas. Os dados são de um levantamento realizado e divulgado pelo Conselho Indigenista e Missionário (Cimi).

Em Mato Grosso, os casos foram denunciados nas terras indígenas Capoto, Sangradouro, Nambikwara, Panará do Arauató, Apiaká-Kayabi, Parque indígena do Xingu, Kawahiva do Rio Pardo e Kanela, sendo um em cada uma delas.

 

G1/MT

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