Polícia Civil identifica e ouve dois suspeitos de agressão a indígena que perdeu o braço em São Carlos

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A Polícia Civil de São Carlos identificou na segunda-feira (18) e ouviu dois suspeitos de envolvimento no espancamento de um ajudante de serralheiro indígena em 18 de janeiro. Ele teve o braço amputado em consequência da agressão. A polícia busca a identificação do terceiro suspeito.

Segundo o delegado seccional de São Carlos (SP), Rogério Fakhany Vita, o caso está sendo tratado como lesão corporal grave. “No decorrer das investigações, se surgirem outros fatores como uma injúria racial isso também será apurado”, afirmou.

O delegado não deu detalhes do depoimento e da participação dos dois suspeitos

Apuração de crime étnico-racial

Na segunda-feira (18), a secretária nacional de Políticas Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Sandra Terena, esteve em São Carlos e levou um pedido ao delegado do 2º DP, Walkmar Silva Negré, responsável pela investigação, para que a agressão seja investigada como crime étnico-racial.

“Pelo que ele [delegado] nos passou, ele não tinha essa informação, mas como foi nos passado um áudio da vítima em que ele relata que sofreu agressão verbal com frases do tipo ‘indígena não merecia viver’ a gente encaminhou um documento ao delegado com esse recorte étnico-racial”, afirmou.

Agressão

Polícia Civil investiga agressão a homem indígena que teve o braço amputado em São Carlos — Foto: Reprodução/Facebook
Polícia Civil investiga agressão a homem indígena que teve o braço amputado em São Carlos — Foto: Reprodução/Facebook

Em um áudio cedido ao G1 pelo professor de sociologia e fundador da ONG Associação Veracidade, Djalma Nery Ferreira Neto, o indígena relatou como foi a agressão e diz temer pela sua vida. “Eles falavam que iam acabar comigo, minha família também”, disse.

O crime aconteceu em 18 de janeiro, mas só foi registrado na terça-feira (12), após uma denúncia anônima. O ajudante de serralheiro relatou que no dia da agressão, após o trabalho, foi a um bar com um homem que ele conhecia e cujo nome foi informado à polícia. No local, ocorreu uma discussão entre eles e o homem acusou o ajudante de ter furtado R$ 100.

O homem foi embora e mais tarde abordou o indígena em um semáforo e pediu carona. Ele entrou no carro e pegou a chave.

“No que ele pegou, ele veio para cima, tentei me defender e dei um soco nele. Aí ele falou: ‘então é assim que você quer? Então tá bom’. Fui no banco do carona e ele dirigindo”, disse.

Logo depois, eles se encontraram com um amigo do homem. “Aí pegaram e me levaram lá em casa. Eu estava com a chave mas não abri a porta. A intenção era roubar o carro, eles queriam ferramenta e tudo. Queriam de tudo quanto é jeito”, relatou.

Ele afirma que eles saíram da casa e foram para uma mata no Jardim Zavaglia. “Eles falaram: ‘o negócio é o seguinte ou você me dá o carro e as coisas ou a gente vai te matar’. Eles pararam o carro no escuro e começou primeiro a me bater. Eles começaram a me espancar e me espancar. Aí ele deu uma paulada na minha cabeça, fiquei desacordado e quando acordei de repente já estava com uma parte [do braço] para o lado de fora [do carro]. Um me sufocando, um segurando e um batendo a porta no braço”, disse.

 

Ameaças de morte

O ajudante também relatou que era ameaçado de morte durante a agressão.

“[Diziam:] ‘a gente vai te matar. Você é um a menos para nós, você não faz diferença nenhuma’. Eles ainda falaram que o corpo eles iam jogar no meio do mato e no carro ia dar um sumiço”.

Mesmo ferido, ele relata que foi embora dirigindo e não procurou socorro. “Na segunda eu tomei remédio, na terça em diante que começou a doer o braço. Fui direto na UPA e depois fui encaminhado para a Santa Casa e fiquei aqui internado, desde o dia 24”, afirmou.

 
Santa Casa de São Carlos — Foto: Reprodução/EPTV
Santa Casa de São Carlos — Foto: Reprodução/EPTV

Ele ainda disse que mentiu no hospital sobre o que tinha acontecido por medo. “Eles falavam que iam acabar comigo, minha família também, tanto que eu vim para Santa Casa e nem falei o motivo, falei que caí do cavalo”.

O braço direito acabou sendo amputado por conta da gravidade das lesões. Ele ainda deverá passar por uma outra cirurgia, segundo a assessoria da Santa Casa.

“É meu único meio de ganha pão, eu trabalhava com ele e agora eu não tenho mais. A vida continua, mas não é mais a mesma coisa. Tudo muda completamente, muda o jeito de ver, o jeito de ser, o jeito de agir. Também não sei se o pedaço aqui vai dar para por uma prótese”, afirmou.

 

O ajudante de serralheiro ainda está preocupado com sua segurança e da família. “A minha preocupação é minha família ser exposta. É uma coisa de risco né. Do jeito que fizeram uma vez eles podem pegar de novo né. Eu tenho muito medo. Não me sinto protegido”, disse.

Insegurança

A secretária Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Sandra Terena, com o serralheiro indígena agredido em São Carlos — Foto: Asscom MDH/Divulgação
A secretária Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Sandra Terena, com o serralheiro indígena agredido em São Carlos — Foto: Asscom MDH/Divulgação

Durante a visita da secretária Sandra Terena, o ajudante de serralheiro, que continua internado, e a sua família pediram segurança e para ser atendido em um hospital mais próximo da cultura indígena.

“É um pedido da família e a gente vai, dentro do possível, fazer essa interlocução para que isso aconteça porque vai fazer com que eles se sintam melhores acolhidos”, afirmou a secretária.

O hospital disse que está fornecendo toda a segurança possível ao paciente e solicitou que o indígena fizesse uma lista das pessoas com permissão para visitá-lo.

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