A bebê indígena Analu Kamayura Trumai, que comoveu o país ao ser resgatada com vida após ser enterrada pela avó, deve ficar o pai, Kayani Trumai Aweti, de outra etnia. A avaliação é do Ministério Público do Estado (MPE), que ainda estuda a viabilidade da concessão da guarda.
Na noite do dia 5 de junho de 2018, policiais militares receberam uma denúncia anônima. O local era um terreno, dentro de uma aldeia próxima à cidade de Canarana (840 km de Cuiabá). Da terra, eles conseguiram resgatar uma bebê, que teria passado mais de seis horas enterrada viva. O socorro foi registrado em um vídeo, que correu as redes sociais.
Hoje, nove meses depois, a criança vive em um abrigo da cidade e faz tratamento na Casa de Saúde Indígena (Casai) para garantir a saúde. Logo após ser resgatada, Analu passou um mês em tratamento na Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá e depois foi encaminhada para sua cidade, Canarana.
Logo após o caso, o promotor de Justiça Matheus Pavão, responsável pelo caso, determinou um estudo antropológico para analisar se era possível fazer a reinserção da criança na família de origem. À época dos fatos, o pai da bebê chegou a declarar à Polícia Civil que não sabia da gravidez e que tinha o desejo de criar a filha.
Agora, após o resultado do estudo, então, o MPE concluiu que a guarda da bebê deve, de fato, ser passada ao pai, que mora em outra aldeia, na cidade de Gaúcha do Norte (600 km de Cuiabá). Para isso, o promotor intimou os responsáveis pela Casa de Saúde Indígena para analisar a viabilidade da continuação do tratamento da criança em outra cidade.
“Caso positiva a resposta, requer desde logo a concessão da guarda da menor Analu Kamayura Trumai em favor do genitor Kayani Trumai Aweti”, pediu, ao final. O processo corre em sigilo na Justiça. Não há informações sobre quando o pai receberá a guarda de fato.
Denúncia
Após as investigações da Polícia Civil, em julho de 2018, o Ministério Público de Mato Grosso denunciou a avó da bebê, a indígena Tapoalu Kamayura, por tentativa de homicídio duplamente qualificado e omissão de socorro. Na denúncia, o MPE cita que Tapoalu tentou matar a neta “por motivo fútil, com emprego de asfixia e mediante recurso que tornou impossível a defesa da vítima”.
Conforme as apurações, a mãe da bebê, que é menor de idade, engravidou em 2017, o que teria sido rejeitado por sua mãe, Tapoalu. Isso porque ela se tornaria “mãe solteira”. Dessa forma, a mulher premeditou a morte da criança e combinou com sua mãe, bisavó do bebê, Kutsamin Kamayura, sobre o dia do crime.
O caso
Depois que a criança nasceu, em um parto feito em casa, na parte da tarde, a bisavó saiu com a criança da casa. Ela teria sido a responsável por enrolá-la em um pano e enterrá-la viva, em uma cova no próprio quintal da casa. Ela não comunicou a suposta morte da criança à nenhuma autoridade.
O fato foi descoberto, porém, porque, depois do parto, a adolescente sofreu uma grave hemorragia e precisou de atendimento médico. Uma enfermeira, ao tomar conhecimento sobre o acontecido, denunciou a situação para o chefe. A polícia, porém, já tinha sido avisada por uma denúncia anônima.
Como a informação foi recebida depois das 20h e o parto teria acontecido perto das 16h, os militares já não imaginavam que a criança pudesse estar com vida. Por isso, ao chegarem no local, isolaram a área e acionaram a Polícia Civil, para que a Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec) pudesse trabalhar.
Para a perícia, a Politec pediu que os policiais civis verificassem o local onde o bebê foi enterrado, para constatar o óbito. Foi um investigador que, ao começar a cavar buracos, ouviu o choro do bebê, surpreendendo a toda a equipe.