Mulheres indígenas fazem vaquinha online para garantir marcha inédita em Brasília

Fórum Nacional das Mulheres Indígenas começa nesta sexta-feira (9), data em que é celebrado o Dia Internacional dos Povos Indígenas.

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Foto: Mídia NINJA

Pela primeira vez, mulheres de diversos povos indígenas do Brasil se reunirão em Brasíia para um fórum e uma marcha de “resistência”. O evento está marcado para começar na capital federal nesta sexta-feira (9), data em que é celebrado o Dia Internacional dos Povos Indígenas, e segue até o dia 13.

Com o tema “Território: nosso corpo, nosso espírito”, a 1ª Marcha das Mulheres Indígenas pretende trazer à tona discussões como direito a território, políticas governamentais, violência de gênero, machismo e homofobia.

Para garantir a presença de mulheres de cinco regiões do Brasil, a organização da marcha criou uma vaquinha virtual com a intenção de arrecadar fundos para a infraestrutura do evento, hospedagem e alimentação.

A meta da arrecadação é de R$ 50 mil. Até a noite desta sexta-feira (8), cerca de 72% já estava batida. De acordo com estimativa da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), é esperada a participação de duas mil mulheres.

“No momento que a gente está vivendo, em que um governo que é totalmente contra as nossas organizações, ficou muito mais difícil conseguir recursos. E a vaquinha vem para isto: garantir a participação e a ajuda de quem estiver disposto”, diz Maura Arapiun, 23, membro do Conselho Indígena dos rios Tapajós e Arapiuns e uma das organizadoras da marcha.


ADRIANO MACHADO / REUTERS
Sônia Guajajara, que foi candidata à vice-presidência, ao lado de Joênia Wapichana, primeira deputada indígena eleita no Brasil.

Segundo Arapiun, a ideia da marcha não é nova, mas floresceu durante conversas com outras mulheres durante o Acampamento Terra Livre (ATL), que aconteceu em abril deste ano, também em Brasília.

“A gente começou a fazer nossos fóruns, nossos grupos de conversa, e este ano se intensificou a discussão de nós, enquanto mulheres indígenas, ocuparmos o nosso espaço e qual seria a nossa importância nesse processo.”

Protagonismo da mulher indígena e outros temas serão debatidos no fórum de quatro dias que precederá a marcha e está previsto para acontecer na Funarte. Ele será realizado de hoje, sexta-feira, até 12 de agosto. Em seguida, dias 13 e 14, as indígenas se juntam à Marcha das Margaridas (leia mais abaixo).

“A gente acredita que tem um papel muito importante na defesa do nosso território. E o que é esse território? É tudo que cabe aos nossos povos, é a nossa cultura. E hoje se torna mais necessário de mostrar que nós, mulheres, estamos nesses territórios que estão ameaçados”, afirma Arapiun.

PAULO WHITAKER / REUTERS
Mulheres indígenas marcham no Dia Internacional da Mulher.

Segundo a organização, até o momento, 1500 mulheres de várias aldeias e povoados distintos estão confirmadas. Nesta sexta e sábado, começam a chegada de algumas delegações de todo o País; cerca de 32 são esperadas. 

Célia Xacriabá, 30, uma das organizadoras da marcha e representante da Apib, considera que, além de um significado político, a marcha pretende ser um espaço de troca e criar um processo curativo para essas mulheres.

“Nossa expectativa é de que essas trocas de narrativa, de história, da memória, possam fortalecer.” Célia Xacriabá, representante da Associação dos Povos Indígenas (Apib)

“Nossa expectativa é de que essas trocas de narrativa, de história, da memória, possam fortalecer, ser um alimento para que elas voltem fortalecidas, que pensem no processo de gestão do território; no seu ser professora, parteira, raizeira, que essa troca de possa servir como conhecimento e cura”, diz.

Já no dia 14, duas forças de mobilização se encontram: a Marcha das Mulheres Indígenas se junta à Marcha das Margaridas, realizada desde 2000 pelas mulheres do campo — quilombolas, ribeirinhas, trabalhadoras rurais e que combatem a mineração e seus efeitos. São esperadas 100 mil mulheres.

Esta será a sexta vez em que as “margaridas” marcham – e a primeira vez ao lado das indígenas. Neste ano, o tema escolhido pela organização foi “Margaridas na luta por um Brasil com soberania popular, democracia, justiça, igualdade e livre de violência”.

A marcha é uma homenagem à sindicalista Maria Margarida Alves, assassinada em 12 de agosto de 1983, a mando de latifundiários de Alagoa Grande, na Paraíba. Na época, ela presidia o Sindicato dos Trabalhadores Rurais.

1ª Marcha das Mulheres Indígenas e Marcha das Margaridas

Fórum Nacional das Mulheres Indígenas

Data: Data: 9 a 12 de agosto 

Local: Funarte

1ª Marcha das Mulheres Indígenas + Marcha das Margaridas

Data: 13 e 14 de agosto

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