Revitalizar, resgatar, atualizar, modernizar e valorizar. Essas foram algumas das principais palavras-chaves ouvidas nos cinco dias de palestras e debates ocorridos no XI Encontro sobre Leitura e Escrita em Sociedades Indígenas (Elesi), realizado no final de setembro na Unicamp/SP, e que reuniu especialistas indígenas e não-indígenas para refletirem sobre o tema Revitalização de Línguas Indígenas: o que sabemos e o que precisamos saber.
A narrativa presente nos discursos dos participantes evidenciou, notadamente, a relação indissociável que há entre linguagem e cultura, além de enfatizar que a revitalização de uma implica no resgate da outra e vice-versa.
Wilmar da Rocha D’Angelis, professor do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) do Departamento de Linguística da Unicamp e um dos principais entusiastas das línguas indígenas brasileiras, lembra que a revitalização de línguas indígenas pressupõe modernização e atualização para que seu uso e dinâmica não percam aderência e deixe de fazer sentido para os membros da comunidade.
“Não há receitas infalíveis e a validade das iniciativas passa pelo crivo da prática”, afirma. Igualmente, Wilmar recomenda que se evite o uso do senso comum a fim de definir o que é certo e errado no estudo da linguagem indígena. “Não existe língua pobre, rica, boa ou ruim. Existe língua enfraquecida”, aponta o especialista.
Para além da busca por palavras equivalentes, de acordo com a professora da Universidade de Brasília (UnB), Ana Elena Rossi, a tradução ética de um para outro idioma estabelece conexões semânticas intrínsecas entre língua-cultura, abarcando a cosmovisão étnica dos falantes e reconhecendo etnosaberes e tecnologias próprias da comunidade. Para que a tradução implique construção de conteúdo, é preciso indagar sobre o que fazer, por que fazer, como fazer, para que fazer, assim como levar em conta a relação do grupo com o sagrado, com o território, fauna, flora e com atividades rotineiras como comer, beber, falar, brincar, brigar, caçar e fazer artesanatos.
Perspectiva Indígena
Vários participantes indígenas de diferentes regiões do país descreveram o atual cenário linguístico da realidade na qual estão envolvidos. Cledinilson Marcolino, Guarani Nhandeva/SP, assinala que a língua indígena não morreu. Está apenas adormecida e pode voltar a ser praticada com o esforço de indígenas e de não indígenas.
Para Luan dos Santos, Tupi-Guarani/SP, a desvalorização da língua nativa quebra pontes de conhecimento entre gerações, que se distanciam uma das outras. De acordo com ele, as oficinas de revitalização são mecanismos de reconstrução dessas pontes. Na visão de Renildo Lopes da Silva (Paumari/Arawá) (AM), as novas gerações têm papel essencial nas iniciativas que visam revitalizar as línguas e resgatar conhecimentos tradicionais. “Se as crianças não aprendem, a língua vai morrer. “
Papel da Funai
André Ramos, da Coordenação de Processos Educativos (Cope) da Funai, explica como a pasta da educação indígena é concebida dentro da política indigenista desenvolvida pela Fundação. Ressalta que a CGPC – Coordenação Geral de Promoção à Cidadania, por meio da Cope, viabiliza os trabalhos técnicos necessários para que a educação nas comunidades indígenas seja considerada como um processo que ultrapassa as paredes da escola.
À luz da legislação, foi apresentado um quadro com o quantitativo de projetos/atividades apoiados pela Funai em 2018, que totalizam 146 ações:
1. Diagnóstico da EEI |
18 |
2. Ações de Acompanhamento das Políticas de EEI |
45 |
3. Encontros sobre Educação |
10 |
4. PEC |
36 |
5. Discussão de PPP |
08 |
6. Projetos de Revitalização Linguística |
12 |
7. Intercâmbios Culturais e Troca de Saberes |
07 |
8. Ações de Acesso e Permanência no Ensino Superior |
10 |
O XI Elesi foi promovido pela parceria entre o Grupo de Pesquisa InDIOMAS (Unicamp), a organização Kumari e a Funai, com apoio do Observatório dos Direitos Humanos da Unicamp e da Coordenação Regional da Funai no Litoral Sudeste.
Welliton Moraes
CR Litoral Sudeste