Presidente da MIU relata a Viviane situação dramática dos índios com Covid-19

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Por Expresso MS

Viviane Nogueira Orro participou da live com o indígena Jader Jorge de Oliveira Foto: Reprodução

“Quando a pandemia apareceu, já se anunciava aos quatro ventos que a nossa imunidade é zero no caso de problemas respiratórios, nosso organismo não absorve. Estamos sofrendo porque nenhuma ação preventiva foi feita. Compartilhamos casas, terrenos, não temos divisão de cercas. A vida comunitária, que sempre foi a nossa força, agora vem a ser nossa fraqueza”.

O desabafo é do índio da nação terena que vive em Aquidauana: Jader Jorge de Oliveira, 58. Formado em teologia e pós-graduado em Filosofia, ele é presidente há 25 anos da Missão Indígena UNIEDAS (União das Igrejas Evangélicas da América do Sul), criada em 1972 e pioneira em formar e enviar índios missionários para as comunidades originárias de várias regiões. Fundada em Mato Grosso do Sul para “formar obreiros autóctones por meio do ensino secular e teológico para plantação de igrejas autóctones”, a Missão Indígena Uniedas tem ramais em outros estados, entre os quais Mato Grosso, Rondônia e São Paulo, trabalha com 29 etnias, possui dois centros de treinamento teológico e dois centros de formação secular.

Jader participou de uma das lives (transmissões ao vivo pela internet) que a médica e ex-secretária municipal de Saúde de Aquidauana Viviane Nogueira Orro vem realizando às terças e quintas para debater a pandemia da Covid-19, analisar os seus impactos, conferir as intervenções do poder público e orientar as comunidades.

Na última terça-feira (28), a liderança terena fez um relato emocionado e revelador sobre a situação dramática de seu povo que, no município, soma cerca de 7,4 mil indivíduos em 10 aldeias. Os números oficiais divulgados ainda sofrem questionamentos, mas calcula-se que, até o início desta semana, o contágio atingiu mais de 100 índios e ao menos nove morreram em consequência da Covid-19.

DIREITOS

Ao analisar para Viviane as causas que envolvem o drama de seu povo, Jader observou que muitos direitos garantidos aos povos indígenas pela Constituição de 1988, até hoje, não foram efetivados dentro das comunidades, como as políticas diferenciadas de educação e saúde.

“Com isso, a dificuldade de não entender nossa vida comunitária passa a ser um agravante. Nossa força passa a ser um agravante na pandemia. Quando a pandemia apareceu, já estava anunciado aos quatro ventos que a nossa imunidade é zero no caso de problemas respiratórios, o nosso organismo não absorve. Estamos sofrendo porque nenhuma ação preventiva foi feita. Compartilhamos casas, terrenos, não temos divisão de cercas. A vida comunitária, que é a nossa força, agora vem a ser nossa fraqueza”.

Jader aponta uma contradição que agrava mais a situação, ao salientar que apesar dos avanços e da rapidez da tecnologia a desinformação continua ainda muito presente nas comunidades. O pastor destaca outro fato: os líderes indígenas são ignorados pelo poder público quando são tomadas decisões que lhes dizem respeito.

IMPACTOS E PRECONCEITO

Para o líder evangélico terena, é preciso entender que, nas aldeias, a pandemia não afeta somente a área da saúde, mas, também, a vida econômica, a social e a familiar. “Há uma grande preocupação com o estado psicológico do povo. Sofremos, além disso, com o preconceito. Se nem a sociedade que já está mais acostumada ao sistema, se o mundo não está conseguindo enfrentar a pandemia, então imagine quem, como nosso caso, só recebe a informação. Só recebemos a informação, não fazemos parte dela”.

Jader faz questão de expor outra face do problema, informando que os agentes indígenas recebem protocolos e ordens da Secretaria de Saúde, “lá na ponta, isso chega bem tarde. Mas eles [os agentes] têm se esforçado, têm trabalhado. Prova disso é que metade do efetivo está afastada, com sintomas. Já perdemos metade do efetivo porque eles estão enfrentando as dificuldades”.

Sobre os investimentos públicos no enfrentamento da doença Jader Oliveira faz questão de enfatizar: “As informações que nos chegam dão números elevadíssimos sobre os milhões destinados para o combate ao coronavírus. Mas estas informações só chegam agora, quando a situação já é crítica, alarmante. Não recebemos um alerta, uma necessária prevenção. Não quero aqui isentar nossa comunidade. Assim como temos dificuldade na cidade pra manter o isolamento, então pra quem vive aqui na comunidade a situação é pior”.

ALERTAS

Desde que o estado de calamidade pública começou a vigorar em Mato Grosso do Sul, a médica e ex-secretária municipal de Saúde Viviane Orro passou a fazer sucessivas intervenções para orientar a população, propor e cobrar providências das autoridades, além de apontar falhas e deficiências que prejudicam o enfrentamento da pandemia. Para isso, recorre a gravação de vídeo e outros recursos das redes sociais.

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