O cacique Antônio dos Santos Silva, de 55 anos, da Aldeia Limão Verde, que fica em Aquidauana, na região oeste do estado, usou as redes sociais para falar da preocupação com a pandemia da Covid-19 e o fato dos moradores não estarem respeitando, “fazendo festas e aglomerando”. Há 2 dias, ele disse que perdeu um grande amigo, o indígena Nivaldo Gabriel, além de tantos outros, quando decidiu fazer o vídeo para toda a comunidade.
“É uma grande preocupação que eu tenho, porque se os moradores da aldeia não seguirem as orientações da saúde, vamos perder ainda mais gente. Tem gente que parece estar duvidando, brincando com o vírus. Muitos que estão fazendo isso estão confrontar a nossa autoridade, só que, infelizmente, não serei eu que vou atacar e sim a doença”, afirmou ao G1 o cacique.
No decorrer dos dez minutos, o cacique fala que já foi feita a recomendação na aldeia, que possui cerca de 1,5 mil pessoas, sendo cerca de 600 famílias. “Nós fizemos reuniões e a gente recomendou qual seria o nosso procedimento…está proibida a entrada de pessoa que não mora na aldeia, vendedor ambulante está proibido e também a entrada de pessoa de outros municípios, mas, infelizmente não é o que temos visto”, lamentou o indígena.
Conforme o cacique, não há colaboração dos moradores, já que não respeitam as “orientações científicas e da saúde”. “…Infelizmente, enquanto nossos irmãos patrícios estão sofrendo, alguém aqui está fazendo festa. Parece que não estamos mais preocupados com o nosso próximo. Todos são adultos, responsáveis, assistem televisão, tem internet na casa e toda hora lá está falando dessa Covid, que não tem vaga no hospital, não tem leito de UTI [Unidade de Terapia Intensiva] e parece que estão duvidando dessa doença”, comentou.
Além disso, no decorrer dos dez minutos do vídeo, o cacique fala que é uma vergonha ele ter de chamar a polícia para encerrar uma festa na aldeia. “…Acredito que não precisa disso, precisa sim ter pessoas responsáveis com a sua família, seus filhos, com os amigos, com o próximo. Não é responsabilidade do cacique ficar cuidando casa de ninguém. Quem tem que cuidar é o morador e só vai cair a ficha quando acontecer com alguém da família”, ponderou.
Desde que passou a fazer alertas, o cacique fala que já ouviu de moradores que estava “exagerando e que estava traumatizando a comunidade”. “No início, falava que só podia entrar aqui passando pela quarentena ou então fazendo exames. Daí, achavam que isso não era real e quando aconteceu a Covid pegou e levou a morte. Se nós avaliarmos tudo o que tem acontecido, foi por conta das pessoas não respeitarem. Por isso eu peço: se cuida, ouve a orientação científica, use máscara, não ande em aglomeração, não faça aglomeração”, argumentou.
Ao final, o cacique fala que está fazendo a parte dele e pede desculpas a todos aqueles que estão respeitando as orientações na aldeia. “Ajude, colabore, faça a sua parte porque eu estou fazendo a minha. Se você não quiser fazer tudo bem, quer continuar no movimento, tudo bem. Estou muito triste e muito chocado pela perda de um companheiro, um guerreiro, que perdeu para a Covid. Não são todos, me desculpem aqueles que estão fazendo o seu papel de cuidar da sua família, porque é muito absurdo, ignorante, sabendo que o vírus está matando e estão fechando os olhos e os ouvidos para o que está acontecendo”, finalizou.
No Brasil, segundos dados dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dsei), a população estimada é de 561.288 de indígenas. Em Mato Grosso do Sul, vivem 46.180 deles, sendo que 76.132 doses já foram aplicadas para esta população, incluindo a segunda dose, o que representa 98,31%.
Em Dourados, na região sul do estado, o Dsei aponta que este é o município com maior quantidade de indígena, com 11,6 mil pessoas e 11.430 doses contra o novo coronavírus aplicadas.
Miranda fica em segundo lugar, com 5.6 mil indígenas e 9.455 doses aplicadas, seguida de Amambai, com 5.572 indígenas e 8.767 doses aplicadas. Por último, fica Dois Irmãos do Buriti, com 1.510 indígenas e 3.009 doses aplicadas, conforme o boletim epidemiológico do Dsei.
Ainda conforme o boletim, existem 4.454 confirmados da doença, com 4.334 curados, 93 óbitos e 4 casos suspeitos.