O povo Xerente vive em 90 aldeias no município de Tocantinia, região central do Tocantins, e forma a maior população indígena do estado. Só na família do Augusto são dez pessoas, entre filhos e netos. Ele se preocupa manter as tradições vivas.
“As tradições são a nossa identidade. Então, não pode. A primeira coisa é isso, preservar também o nosso território”, afirma Augusto Xerente
Em pouco mais de uma década, a população que se considera indígena cresceu pelo menos 66% no Brasil. É o que mostra o balanço parcial mais recente do Censo 2022. O total foi de quase 900 mil pessoas em 2010 para mais de 1,4 milhão.
No Censo de 2010, o Brasil registrava 305 etnias e 274 idiomas. O novo retrato completo deve ser divulgado ao longo dos próximos meses.
Em boa parte das aldeias, o Censo já terminou. Isso porque esse ano o IBGE contou com a ajuda das lideranças indígenas no processo. Os recenseadores foram apresentados às comunidades pelos próprios caciques e isso evitou as recusas na hora das respostas ao questionário.
O questionário que é aplicado nas aldeias foi expandido para captar informações sobre a estrutura política, administrativa e religiosa dos povos indígenas.
“Nós conseguimos observar nos primeiros dados um crescimento significativo da população natural e também em relação a autodeclaração indígena, o que significa também que há uma quebra de um paradigma, de preconceito em relação à autodeclaração. Isso, sim, aliada à expansão metodológica dos questionários do IBGE retrataram com mais fidedignidade às populações e povos tradicionais”, explica Paulo Ricardo Amaral, superintendente IBGE em Tocantins.
Indigenistas afirmam que o resultado pode gerar benefícios para as comunidades, já que as políticas públicas serão definidas com base em informações detalhadas.
“A questão da taxa de alfabetização, número de registro de nascimento, isso por terra indígena. Nós vamos ter também dados sobre saneamento básico, coleta de lixo e outros dados. Nós teremos condições de definir políticas mais ajustadas, políticas mais precisas também no sentido de enfrentar os problemas”, afirma o indigenista Artur Mendes.
Otimismo que é compartilhado por quem vive nas aldeias e deseja melhorias.
“A educação e a saúde é o que a gente pede mais. Pelos dados que a gente viu pelo IBGE, eu acho que isso vai melhorar muito agora. Onde está o erro e onde está o certo, para já agora, para fazer o melhor também. A gente também é gente, como qualquer outra pessoa, também a gente tem que ter o nosso direito, como qualquer um, o nosso direito de estar cobrando também”, afirma o professor Manoel Xerente.