Ouvir, acolher e relatar a fala das mulheres indígenas para a construção de políticas públicas. Mato Grosso do Sul recebeu a equipe do Ministério das Mulheres, que percorreu as cidades de Ponta Porã, Jateí, Amambai, Dourados e Campo Grande nos dias 28 a 30 de junho, para a escuta de mulheres indígenas de comunidades e também aquelas em privação de liberdade.
Técnica da Subsecretaria de Políticas Públicas para Mulheres e indígena da etnia terena, Gisele Francelino fez a abertura da escuta realizada em Campo Grande, cidade que encerrou a agenda das representantes do Ministério das Mulheres no Estado.
“Que eu saiba nunca houve um ministério que saísse do seu gabinete para ouvir nós mulheres enquanto povo indígena, e eu acredito que quando nós trazemos as nossas demandas, somos ouvidas e o Ministério das Mulheres vai dar o devido procedimento”, introduziu Gisele.
Depois de viajar pelas comunidades indígenas e visitar presídios na região do Conesul, a visita do Governo Federal em Campo Grande foi para ouvir mulheres das cidades de Sidrolândia, Miranda e Aquidauana. Lembrando que as indígenas do contexto urbano da Capital foram ouvidas pela própria ministra Cida Gonçalves no dia 17 de junho.
As reuniões seguiram às portas fechadas para que as indígenas ficassem à vontade para relatar dificuldades e desabafar encontrando acolhimento. No total, a equipe do Ministério das Mulheres ouviu 125 mulheres das etnias guarani, kaiowá, terena, kinikinau e kadiwéu.
Coordenadora geral de prevenção à violência do Ministério das Mulheres, Pagu Rodrigues, que é indígena da etnia Fulni-ô, do Nordeste do País, enfatizou que a escuta com mulheres indígenas é uma prioridade para a gestão da pasta.
“Realmente vamos fazer uma discussão sobre o enfrentamento à violência em relação aos indígenas, e a ideia é fazer escutas para saber quais são os problemas, as dificuldades, porque é com isso em mãos que a gente vai poder traçar um serviço especializado desse jeito, respeitando as diferenças regionais para quem está no Pantanal, para quem está em contexto urbano”, exemplificou.
Indígena terena, vovó Ione trouxe um pouco da realidade da aldeia Cachoeirinha, de Miranda. “Um dos maiores problemas nossos é na parte da educação, nós precisamos também urgentemente de psicólogos na aldeia para lidar com a questão da droga, da violência”, citou.
Para ela, a escuta é de extrema importância justamente para que o Governo Federal conheça a realidade e as necessidades dos povos indígenas. “Se a gente não tiver este movimento, ninguém nunca vai saber da nossa existência”.
Cacique Ana Batista, da aldeia Tereré, de Sidrolândia, ressalta o ineditismo da ação, e coloca a questão da violência contra as mulheres em evidência. “Hoje, para a gente, é a violência, e nós estamos aqui, indígenas mulheres, para que sirva de exemplo às outras comunidades de que é preciso perder o medo de falar”, comentou.
Para a subsecretária de Políticas Públicas para as Mulheres, Cristiane Sant’Anna, o papel das gestoras de todo Mato Grosso do Sul é de articular tanto com o parlamento como com o judiciário para beneficiar as mulheres que estão na ponta.
“E as mulheres indígenas são as que precisam mais ainda de políticas públicas, e estamos trabalhando neste processo. Pautar a questão indígena é preciso e é urgente. Nós estamos falando de vidas”, ressaltou.
Coordenadora do Nudem (Núcleo Institucional de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher) da Defensoria Pública do Estado, Zeliana Sabala acompanhou a escuta em todos os municípios. Junto com a subsecretaria, a Defensoria e demais entidades fazem parte do grupo de trabalho criado pela ministra Cida Gonçalves.
“Eu estou à disposição de vocês, de lideranças indígenas, e quero dizer que o Nudem é um núcleo estadual. Eu fico aqui em Campo Grande, mas o núcleo não sou só eu, e sim todos os defensores do Estado. Onde tiver uma violência, tem um defensor público preparado para atender”, reforçou.
Da escuta feita pelo Ministério das Mulheres sairá um relatório com as recomendações da pasta ao serviço público, além de servir de base para a elaboração de políticas públicas que contemplem as peculiaridades de cada região. Os casos de denúncia e depoimentos ficarão sob sigilo.
Paula Maciulevicius, Setescc
Fotos: Thais Bacchi e Matheus Carvalho, Setescc