Documentário resgata a trajetória de aldeia urbana e da primeira cacique mulher de MS

Material foi gravado na comunidade e será disponibilizado no Youtube da Reme

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Primeira aldeia urbana do País, a Marçal de Souza é um marco para a história indígena de Mato Grosso do Sul. Em celebração às mais de duas décadas de criação da comunidade, o professor de artes visuais Diogo Ajala, 30 anos, decidiu gravar um videodocumentário com depoimentos de descendentes e personalidades da aldeia. O material intitulado “25 anos – Aldeia Urbana Marçal de Souza” será disponibilizado no YouTube.  

“Não tem como fazer isso sem falar com a principal personagem, que é a Enir da Silva Bezerra, conhecida como Enir Terena, porque ela que teve essa iniciativa de ir para aquela região e montar a aldeia ali. A região já era deles, mas não estava em uso até aquele momento”, conta Ajala.  

Além de fundadora da aldeia, Enir foi a primeira cacique mulher de Mato Grosso do Sul. Uma referência de atuação mesmo após seu falecimento, em julho de 2016. “Acredito que ela tenha sido a primeira cacique mulher do País”, explica Ajala.  

Para contar a história de Enir e da aldeia, Ajala entrevistou, principalmente, a filha mais velha da cacique, Maria Auxiliadora Bezerra, 48 anos. “Já fiz muitas participações em documentários e outras atividades, porque é algo que minha mãe nos ensinou: que devemos nos afirmar como indígenas e ter diferentes pontos de vista. Sempre atendemos muitos acadêmicos, pesquisadores, até para termos nossa história documentada também”, explica Maria Auxiliadora.

Irmã mais velha de sete irmãos, Maria Auxiliadora é uma das vozes atuantes da aldeia urbana.  

Durante os 25 anos da comunidade, ela lembra de vários detalhes, inclusive de como foi a ocupação do território. “A [aldeia urbana] Marçal nasceu pela necessidade de moradia de várias famílias. Minha mãe conhecia várias famílias que viviam nessas dificuldades em Campo Grande. E nós não éramos diferentes. Tinha moradores de diferentes bairros que vieram para cá”, explica Maria Auxiliadora.  

A filha mais nova de Enir tinha menos de dois anos na época. “Uma das coisas que eu lembro é que, quando minha mãe veio para cá, ela não trouxe minha irmã mais nova, porque ela era muito pequena e no início eram apenas barracos. Então eu que trazia ela para dar de mamar”, relembra.  

Segundo Maria Auxiliadora, o pedido de realizar o documentário surgiu da própria comunidade. “Esse documentário foi um pedido do próprio cacique. A Secretaria Municipal de Educação atendeu, fez o levantamento, colheu os depoimentos e editou o material”, explica Maria Auxiliadora.

O documentário seria lançado amanhã para a aldeia, mas a exibição acabou sendo adiada. De acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Educação, apesar da mudança, o material já está em exibição na TV Reme (Rede Municipal de Ensino), canal 4.2, e ficará disponível no YouTube oficial da Reme.  

Comunidade

De acordo com Ajala, atualmente moram 220 famílias na Aldeia Urbana Marçal de Souza. “Todos da etnia terena, mas o entorno já se misturou com o homem branco. Essa que é a principal característica, e o diferencial, da aldeia, a proximidade dela com outros bairros de Campo Grande, com outras comunidades”, explica o diretor do documentário.  

Em razão dessa proximidade, a luta para manter as tradições acaba sendo ainda mais importante. “Esse que é o principal fator pelo qual eles lutam lá: eles são indígenas morando dentro da cidade. Eles têm todo o acesso à tecnologia e às mudanças da sociedade contemporânea. Os smartphones, o acesso à internet, foi tirando os rituais que outrora tinham, então eles lutam para manter a cultura e os modos deles de celebrar e de viver”, frisa.  

Segundo Ajala, o Memorial localizado na Aldeia Marçal de Souza acaba desempenhando o papel de guardar essa memória. “O Memorial que eles têm bem no meio da aldeia: é ali que eles guardam os artesanatos, as obras, as próprias fotos da Dona Enir, que para eles é um símbolo de autoridade e tem todo esse sentido de manter a cultura e toda essa liderança para eles”, pontua. 

 
 

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