MPF investiga tensão na Terra Indígena Kadiwéu após assassinato de vice-cacique

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Elísio, vice-cacique, foi assassinado neste mês - Facebook

O Ministério Público Federal investiga o assassinato do vice-cacique Elísio Rosa Veiga, 34, da aldeia São João, onde vivem indígenas kadiwéus, em Porto Murtinho, região de fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai.

Outro kadiwéu, Erlei Matchua Mendes, 24, foi preso como autor dos tiros que mataram o vice-cacique.

Há a suspeita de o crime ter conexão com rixa política antiga travada pelo comando da aldeia.
A investigação acerca dos conflitos internos na São João, determinada pelo procurador da República, Luiz Eduardo Camargo Outeiro Hernandes, foi noticiada por meio do Diário Oficial do MPF (Ministério Público Federal), em MS.

O crime em questão ocorreu na noite do dia 7 passado, 17 dias atrás, à noite, dentro de uma merceria, cujo dono era a vítima. Erlei Matchua, segundo depoimento da mulher do vice-cacique Elísio Rosa, entrou no estabelecimento, e logo pegou alguns mantimentos.

Elísio, posicionado atrás do balcão, teria dito que a conta tinha custado R$ 50,00 e, logo depois, Matchua sacou uma arma e disparou o primeiro tiro no peito do vice-cacique, que caiu no chão.

Elísio estava ao lado da mulher e um filho de quatro anos de idade, que escondeu-se ao ouvir os disparos.
Depois do primeiro estampido, Matchua aproximou-se do corpo do vice-cacique, empurrou a testemunha e disparou mais tiros. “Isso é pelo meu pai e pela minha mãe”, teria afirmado o atirador a cada disparo, disse a mulher da vítima.

À polícia, em depoimento, a mulher de Elísio disse que “nem ela nem o marido tinham desavenças na aldeia”, contudo, afirmou que “imagina que isso [assassinato] possa ter alguma relação”, talvez, “com alguma briga pela liderança da aldeia”.

A mulher disse ainda que o marido, o vice-cacique, pelo que sabe, nunca teria discutido o matador. Ainda no depoimento na delegacia da cidade de Bonito, que fica na região próxima à aldeia, a mulher afirmou que Erlei Matchua é sobrinho do cacique da aldeia São João, Ivanildo Mendes.

Antes de o MPF manifestar-se favorável a uma investigação acerca dos conflitos internos na aldeia, líderes dos kadiwéu pediram ajuda para que o acusado e sua família fossem tirados dali por temerem um ataque contra eles por vingança. Erlei Matchua foi capturado e cumpre prisão preventiva, sem data para acabar.


HISTÓRICO DE CRIMES

Em janeiro de 2015, oito anos atrás, num período de 30 dias, três índios morreram assassinados supostamente  por disputa de comando na aldeia Alves de Barros, situada na mesma região que a aldeia São João.

Em dezembro de 2014, o então cacique da aldeia Ademir Matchua, à época com 42 anos de idade, foi morto a tiros e os acusados pelo crime seriam seus rivais políticos pelo comando da comunidade kadiweu.

A Polícia Civil, que já investiga a morte do do vice-cacique Elísio, ainda não informou se os crimes dos anos de 2014 e 2015 têm relação com o assassinato ocorrido na aldeia São João. Nem o de grau de parentesco entre o assassinado em 2014, Ademir Matchua e Erlei Matchua.

OS KADIWÉU

Os kadiwéu vivem em aldeias situadas aos arredores das cidades de Porto Murtinho, Miranda e Bonito. Somam hoje em torno de 1,5 mil habitantes. Ao contrário das outros etnias que vivem em MS, como guarani e terena, que habitam aldeias na região de Dourados, terra não é um problema para o povo kadiwéu.

Os kadiweu agiram como guerreiros no confronto do Brasil contra o Paraguai (1864-1870), daí, no fim do duelo vencido pelos brasileiros, eles tiveram as terras demarcadas e lá vivem até hoje.
Mato Grosso do Sul abriga aldeias onde vivem em torno de 80 mil indígenas.

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