O Fórum dos Caciques de Mato Grosso do Sul realizou nesta terça-feira (5), o primeiro encontro com representantes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), para discutir o Censo Demográfico dos povos originários no estado.
De acordo com os dados do Censo 2023, população indígena em Mato Grosso do Sul cresceu 51,04%, saindo de 77.025 em 2010 para 116,346 pessoas em 2022. Os povos originários representam 4,22% dos moradores do Estado, que chegou a 2.756.700 habitantes.
No entanto, alguns caciques apontaram no encontro que o IBGE não visitou todas as aldeias em suas áreas, o que pode gerar um impacto negativo na criação de políticas públicas e na alocação de recursos e orçamentos para as comunidades indígenas.
Segundo os líderes indígenas, há uma dificuldade na coleta de dados precisos em comunidades que, em determinados momentos, não estão em suas aldeias devido às atividades que exercem, como a colheita de maçã do estado.
O principal ponto discutido foi a queda no número de indígenas em relação aos dados do estado da Bahia, em comparação com anos anteriores. Mato Grosso do Sul caiu para o terceiro lugar no ranking nacional, deixando as lideranças indígenas perplexas e desejando uma análise mais detalhada desses números.
Diante disso, os líderes indígenas debateram e sugeriram medidas para ajustar a coleta de dados futuramente, para uma melhor reflexão da realidade dinâmica das comunidades indígenas.
Foram convidados para a discussão caciques, capitães, lideranças, professores, mulheres, jovens, pajés e anciãos. O encontro aconteceu no auditório do Museu de Arqueologia UFMS (Muarq), na Avenida Fernando Corrêa da Costa, 559, Centro de Campo Grande, a partir das 9h.
Recenseadores indígenas
Uma das sugestões apresentadas foi a captação e qualificação de recenseadores indígenas para a coleta de dados do Censo IBGE. Apesar do Instituto abrir inscrições para agentes indígenas em 2022, muitos não sabiam dominar o aparelho tecnológico para registro dos dados.
Diante disso, defendem que os recenseadores indígenas recebem um treinamento adequado, já que possuem acesso às suas próprias comunidades e conhecem a dinâmica de seu povo.
O que diz o IBGE
Ao Correio do Estado, o supervisor de disseminação de informações em Mato Grosso do Sul, Fernando Gallina reforçou que já houve diversos outros encontros entre o IBGE e lideranças indígenas, principalmente nos momentos que antecederam o Censo.
“O apoio, a orientação, a sabedoria e o conhecimento das lideranças sempre serviram de norte para o órgão saber como chegar aos moradores dos locais mais diversos”, reiterou.
Conforme Gallina, o diálogo com as lideranças indígenas e quilombolas foi fundamental para o processo constante de evolução dos questionários, da base cartográfica e do cadastro de endereços usados no censo e nas pesquisas amostrais do IBGE.
“O Instituto se manterá aberto para novos diálogos dentro do que lhe é cabível. Levaremos os dados até aqui publicados e, assim que houver novas informações relacionadas ao tema, também faremos as publicações. Como órgão técnico, o IBGE se compromete institucionalmente a cumprir sua missão de retratar a realidade brasileira da forma mais fiel o possível”, garantiu.
Com relação ao questionamento do número de indígenas de Mato Grosso do Sul não corresponder ao publicado, o supervisor defende que a missão do censo era de dizer quantos somos, onde estamos e como vivemos.
“Fizemos isso contando todas as pessoas do país, indo aonde houvesse moradores. Perguntamos a todos quais eram suas cores ou raças e, onde era adequado, fizemos perguntas extras, cobrindo o tema da identificação cultural e de pertencimento para indígenas e quilombolas. Nós retratamos as respostas que recebemos das pessoas”, destacou..
Por fim, o IBGE reitera que sempre se disponibilizará para esclarecer a importância do censo, dos dados obtidos e da sua utilidade. No entanto, não pode interferir nas respostas dadas pelos entrevistados, que devem se identificar como indígenas, quilombolas etc.