“No meu caso, eu coloco marcadores digitais ao longo do crânio, aproximadamente 30. Assim tenho ideia sobre a espessura do músculo e da pele da pessoa. Em seguida, fazemos a projeção dos lábios, nariz e orelha”, explicou.
Para descobrir a espessura do nariz, o designer faz uma projeção inferior e superior do crânio (Foto: Gleber Nelson Marques/ Arquivo pessoal)
Para descobrir a espessura do nariz, o designer faz uma projeção inferior e superior do crânio. O mesmo trabalho de projeção, partindo do globo ocular, é feito para descobrir se os lábios eram grossos ou finos.
O crânio foi encontrado sem a parte da mandíbula do índio, que também foi reconstruída pelo designer.
Cícero explicou que, durante a reconstrução forense de um crime, a face é feita sem cor, porque para adicionar detalhes, como a cor da pele e do cabelo, seria possível ter acesso ao DNA da pessoa, mas, de acordo com ele, esse tipo de serviço é caro.
“Por conta disso, fazemos uma pintura digital baseada na nossa paleta de cores. Pegamos uma média de como seria o cabelo, por exemplo”, disse.
Sítio cemitério
O arqueólogo Luciano Pereira explicou que o local onde o crânio foi encontrado era um cemitério indígena. O objeto foi encontrado junto a peças de cerâmica, em novembro de 2011, no Sítio Arqueológico Índio Grande, a 150 km de Cáceres.
“É um local conhecido desde a década de 90. O sítio arqueológico fica às margens do rio Paraguai, devido a sedimentação das margens, as paredes do barranco vão caindo e os objetos aparecendo”, disse Luciano.
Junto ao crânio foram encontrados vasilhames de cerâmica, que, de acordo com Luciano, eram usados em práticas culturais relacionadas à morte.
“Etnias como a Bairi, que, apesar de não ter relação com a tradição Descalvados, enterravam crianças com vasilhames de mingau. Durante as práticas, mulheres eram enterradas com uma tigela sobre o crânio, talvez para que o espírito permanecesse ali”, explicou.
Em 2012, pesquisas foram realizadas no Sítio Arqueológico Índio Grande e constaram que, além da área ser um cemitério, havia grande incidência de mulheres e crianças enterradas no local.
No sítio, foram encontrados adornos, objetos de cerâmica, restos de fauna e ossos de animais, que, de acordo com o arqueólogo, indicam a presença de diferentes rituais funerários.
Uma análise feita nos ossos encontrados no local demonstram sinais de anemia, bico de papagaio e stress. Luciano explicou que podem ter sido causados pelos grandes deslocamento dos índios em busca de água, devido à seca que atinge o Pantanal de tempos em tempos.
A etnia Xarayes faz parte de um grupo conhecido pela arqueologia brasileira como tradição Descalvados, que englobam padrões semelhantes e relacionados a povos distintos.
Luciano contou que a etnia ficou conhecida por estabelecer contato direto com espanhóis durante o século 16. De acordo com ele, o grupo subia o Rio Paraguai constantemente.
Não existem mais remanescentes dessa etnia. Uma das possibilidades é que os índios Xarayes tenham se agrupado a índios de etnia Guató e Chiquetano.
“No século 16 o que se falava sobre eles é que eram muito numerosos e de repente desapareceram, esses povos são muito afetados pelo contato”, contou.
De acordo com ele, a etnia possuía aldeias e populações grandes, com forte organização social. Os vasilhames de cerâmica eram usados para armazenas grãos e os índios Xarayes eram agricultores.
Com informações G1.
Redação/Rádio Terena