É no campo de futebol que índios terenas da Aldeia Limão Verde (Aquidauana), a 140 km de Campo Grande (MS), estão enxergando um futuro longe da depressão e do alcoolismo. Desde julho, mais de cem alunos, entre 7 e 17 anos, frequentam o local duas vezes por semana.
Além dos treinos, são promovidas rodas de conversas sobre os perigos do consumo de álcool e como combater a depressão. São realizadas, ainda, oficinas de danças tradicionais e língua terena, como forma de valorizar a cultura local.
A iniciativa é uma expansão de uma escolinha de futebol de Aquidauana, cidade a 24 quilômetros da Limão Verde. “Optamos por abrir um núcleo na casa deles”, conta o treinador Henrique Brites, filho de índios terenas e ex-jogador do Aquidauanense F.C. Ele diz que isso foi necessário porque, pela distância e pela dificuldade de transporte, poucos índios conseguiam ir até a cidade para participar das aulas.
Ariwalber Silva, de 16, foi um dos primeiros alunos. Ele lembra que, antes das aulas, muitos de seus amigos estavam sendo levados para o “caminho ruim”, por falta de atividade. “Agora, temos mais oportunidades de representar nossa comunidade e fazer com que as pessoas nos conheçam, antes de nos julgar só pela nossa origem.”
Para Matias Peno, missionário do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), ações assim são fundamentais diante do cenário de diminuição dos territórios indígenas e da opressão que eles sofrem. Segundo Peno, esses são problemas que fazem as novas gerações se sentirem sem perspectivas.
A ideia é compartilhada por Fernando Albuquerque, coordenador do Programa de Saúde Mental Indígena da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). “Para mudar a realidade, é preciso aliar saúde pública a projetos de melhoria da qualidade de vida dos indígenas”, avalia.
Dados do último Mapa da Violência – Jovens do Brasil, de 2014, mostraram que o número de suicídios entre o grupo de indígenas é quatro vezes maior do que a média nacional. Em Mato Grosso do Sul, a situação era ainda mais preocupante.
Os índios respondiam por 19% do total dos suicídios na população, porcentual sete vezes maior do que o esperado para sua participação demográfica. Situação que a escolinha espera ajudar a mudar. Pai de dois dos alunos, Ivanildo Orombó afirma que já consegue notar a diferença. “A gente não pode pensar que através do futebol estamos fugindo da nossa cultura. A gente tem de ter orgulho de ser o que somos, onde estivermos.”
Os primeiros frutos começaram a surgir. “Um aluno foi visto durante uma peneira e pode ir para Portugal”, conta o educador físico Wilson Santos. “Mas nosso foco não é formar atleta. É acabar com o ócio e mostrar novas alternativas, que vão muito além do futebol.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Redação/Rádio Terena