Professor indígena morre após ser brutalmente espancado no litoral de SC

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O indígena Xokleng  Marcondes Nambla, 36, morreu após ser brutalmente espancado no litoral de Santa Catarina. A família e amigos exigem justiça. Ele era casado e tinha quatro filhos.

No primeiro dia do ano, às 5h30, o plantão do Corpo de Bombeiros recebeu uma denúncia. Um homem avisava que havia encontrado um indígena caído na principal avenida da cidade praiana de Penha, a Eugênio Krause, e que ele não parecia bem. Marcondes estava desacordado, tinha um um corte profundo na cabeça e sangramentos nos ouvidos.

De acordo com o Corpo de Bombeiros, ele foi levado ao pronto atendimento da cidade e depois transferido para o Hospital Marieta  Konder  Bornhausen, em Itajaí, onde foi na UTI. Por volta das 20h da terça-feira (2), ele morreu.

O caso é investigado pela Delegacia de Investigação Criminal de Itajaí. Delegados dizem que não darão detalhes da apuração para não atrapalhar a possível prisão do suspeito. Imagens da câmera de uma loja de materiais de construção são analisadas pela polícia.

No vídeo cedido à Polícia Civil, um homem surge com um pedaço de madeira na mão. Ele vaga pela rua, inquieto, até que aparece Marcondes. Os dois conversam rapidamente. O indígena dá as costas e vai embora, mas é surpreendido com uma pancada na cabeça, cai no chão e continua a ser espancado. O criminoso foge.

Marcondes era formado no curso Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica, pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). Lecionava na Terra Indígena Laklãnõ, em José Boiteux, no Vale do Itajaí (a 161 km de Penha). Seu projeto era ingressar no mestrado em Antropologia para estudar sobre a infância Laklãnõ.

Um esboço dessa pesquisa fora apresentado por ele no III Seminário Crianças e Infâncias Indígenas, no dia 6 de novembro, na UFSC.

Ele era uma das lideranças indígenas da Terra Indígena Laklãnõ, dividida em oito aldeias, cada uma com seu próprio cacique. Marcondes foi escolhido juiz das eleições por ser considerado um homem calmo e honesto, segundo contou seu familiar Brasílio Priprá. O parente também disse que Marcondes era “gentil, não consumia álcool e não arrumava confusões”.

O historiador Clóvis Brighenti, que deu aulas a Marcondes, escreveu que o aluno era “irreverente e perspicaz e se destacou entre os alunos do Curso de Licenciatura Intercultura Indígena, concluído em 2015”.

Marcondes aproveitou as férias escolares para ir a Penha vender picolés, para aumentar a sua renda. No Réveillon, ele se afastou do grupo de amigos para ver a queima de fogos e não foi mais encontrado.

Como era evangélico foi velado na Igreja Pentecostal Adoração a Deus, situada na Aldeia Coqueiros. O sepultamento do corpo se deu no Cemitério Indígena Figueira.

Amanhã (4), os oito caciques se reunirão para redigir um documento que deve ser enviado pela Funai (Fundação Nacional do Índio) ao Ministério da Justiça. As lideranças desejam que a PF (Polícia Federal) participe das investigações. Nas redes sociais, há centenas de comentários de indignação de pessoas próximas ao indígena.

Brasílio contou que muitos indígenas temem vender artesanatos no litoral catarinense e que, neste ano, foi o primeiro relato de violência. Lembrou do indiozinho Kaingang Vitor, 2, que no dia 30 de dezembro de 2015, foi degolado nos braços da mãe, em frente à rodoviária de Imbituba.

“Precisamos entender o motivo dessa morte para exigir justiça e para nos proteger”, disse.

 

Redação/Rádio Terena

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