A taxa de mortalidade por suicídio entre indígenas é quase o triplo da média nacional, segundo o Ministério da Saúde. Enquanto o Brasil registra 5,7 óbitos a cada 100 mil habitantes, o índice é de 15,2 na população indígena. A maioria das mortes (44,8%) ocorrem na faixa etária de 10 a 19 anos, ao contrário do panorama geral, em que os adultos de 20 a 39 anos respondem pela maior proporção dos registros. “O suicídio dos povos indígenas pode se tornar um fenômeno epidêmico, que vai se alastrando”, avalia Lucia Helena Rangel, antropóloga e professora da Pontifícia Unidade Católica.
Diferentemente do cenário de anos atrás, em que parecia que o suicídio era recorrente apenas entre os guarani-kaiowás, muito presente no Mato Grosso do Sul, os últimos anos revelaram que há caso em outras etnias. “Em lugares que aparentemente não haviam casos, logo começou a surgir registro de mortes autoinfligidas no Alto Rio Negro, região noroeste da Amazônia, em São Gabriel da Cachoeira e Alto Solimões no Amazonas e Alto Solimões, com povos como Tikuna e Yanomani”, conta Rangel que também é assessora do Conselho Indigenista Missionário (CIMI).
Citada pela pesquisadora, a cidade de São Gabriel da Cachoeira é a recordista nas estatísticas de suicídio por habitante dos municípios brasileiros. As 23 etnias que há pelo menos 3 mil anos ocupam as margens do rio Negro e de seus afluentes correspondem a 80% da população. De um total de 73 mortes ocorridas entre 2008 e 2012, apenas cinco não foram de indígenas, segundo o Mapa da Violência 2014. Entre os indígenas, 75% eram jovens.