As aldeias de Dourados têm déficit de 1 mil vagas na educação básica. A estimativa é da Fundação Nacional do Índio (Funai), que junto com outras quatro instituições como a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), Conselho Tutelar, Cras indígena, Bolsa Família e Coordenadoria Especial de Assuntos Indígenas, estão fazendo um raio-X para detectar a real demanda da comunidade.
De acordo com o coordenador da Fundação nacional do Índio (FUNAI), Fernando de Souza, a estimativa leva em conta o número de crianças e adolescentes entre (cinco e 17 anos) apontadas pelo último Senso (4.8 mil) e quantas delas estão matriculadas em uma das 7 escolas de 1º ao 9º ano. Hoje estão estudando cerca de 3.600 no ensino fundamental. “Sabemos que 200 crianças estudam diariamente em escolas de Itaporã, mas ainda temos que identificar as mais de 1 mil nessa faixa etária e que podem estar fora da escola por diversos fatores, seja por falta de vagas ou até mesmo negligência dos pais”, destaca Fernando.
O coordenador também disse que em toda a Reserva só existe uma escola de ensino médio o que não é suficiente para atender a demanda dos mais de 3 mil alunos que concluem o ensino fundamental. “A capacidade dessa única unidade é de 600 alunos. Nessa faixa etária, de 17 a 24 anos, os jovens acabam desistindo de concluir os estudos por que com poucas vagas, teriam que sair da reserva e ir até a área urbana, situação que gera desconforto por ser longe e pelo risco de choque de culturas o que gera o medo do preconceito”, destaca.
Por isso, segundo Fernando, a Funai vem mobilizando as autoridades para que assim que um laudo sobre a falta de vagas for concretizado, possa mobilizar as autoridades em torno da construção de, no mínimo, uma escola de ensino médio na aldeia Bororó, que não dispõe de nenhuma.
O coordenador afirma ainda que acredita que a educação é o caminho para a diminuição da violência nas aldeias. “Queremos garantir a oportunidade das crianças e adolescentes poderem concluir seus estudos e também terem acesso a qualificação profissional para que tenham oportunidades de emprego. É preciso que os nossos jovens tenham perspectiva de vida, possam sonhar e realizar esses sonhos através do seu trabalho. Por isso estamos em busca de parcerias com empresas e com instituições de qualificação de mai de obra para que num futuro breve, possamos ofertar caminhos diferentes para nossos adolescentes, que hoje, acabam sendo presas e vulneráveis a criminalidade”, conta, observando que há 5 anos dezenas de alunos que tiveram a chance de estudar e se qualificar, ingressaram no mercado de trabalho e puderam escolher seu destino.
Fernando diz que para fazer o levantamento, a proposta é de que agentes de saúde da Sesai, que já passam pelas casas, possam ajudar a checar quantas crianças e adolescentes estariam fora da sala de aula. “Num primeiro momento os profissionais não conseguiram realizar essa ação, mas acredito que em breve poderemos enfim ter todos esses dados a disposição”, conta, observando que o trabalho conta com o apoio da Promotoria da Infância de Dourados.
Fernando acredita que a educação é o caminho para combater a violência e a criminalidade infiltrados na Reserva. Recentemente O PROGRESSO mostrou que pelo menos 30% das crianças a partir dos 8 anos estariam recrutadas pelo tráfico de drogas dentro da Reserva Indígena de Dourados. A constatação foi feita por lideranças como o guarani-kauá Silvio Leão, que por anos exerceu a função de cacique. Segundo ele, traficantes estão invadiram a reserva, viciam e recrutam crianças para o crime. “A estratégia é simples. Fornecem drogas de forma gratuíta e depois começam a cobrar. Os menores ficam sendo ameaçados e, para quitar a dívida, entram para o crime. As meninas chegam a se prostituir”, destaca.
O diretor da Escola Tengatui marangatu, Aginaldo Rodrigues conta que entre 2016 e 2017 foram apreendidas dezenas de armas brancas e papelotes de drogas com alunos. Ele disse que chama os pais dessas crianças mas eles dificilmente aparecem porque na maioria dos casos também são viciados. Segundo uma liderança que pediu para não ter o nome revelado, as crianças pegam a droga em pontos escondidos na reserva e já sabem para quem entregar. Segundo ele, a reserva é abastecida no período noturno com carros adulterados e com placas frias; veículos que são objeto do crime, vendidos com a finalidade de facilitar o transporte do tráfico na reserva. De acordo com membros do Observatório de Direitos Indígenas e do Conselho Indígena, após as 18h existe uma forte movimentação de veículos que chegam para entregar drogas e fomentar o tráfico no interior da Reserva.
Segundo as lideranças, a droga vem de laboratórios de fabricação no Paraguai. A droga chegaria através da entrega dos do trabalho “formiguinha” em que um grupo chegaria de Ponta Porã e em determinado ponto da BR ou de estradas vicinais entrega a droga para outro grupo. O crack ou a cocaína pura chegam na reserva em pequenas quantidades. São distribuídas e vendidas aos usuários. Com informações oprogresso.
Redação/Rádio Terena