No mês em que se celebra o Dia do Índio, integrantes do programa de Residência Multiprofissional em Saúde do Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (HU-UFGD) organizaram uma exposição de fotos que registram um pouco de sua vivência com a comunidade indígena da região. O objetivo é propor reflexões acerca da convivência entre índios e não-índios e alertar para o preconceito que ainda persiste nestas relações.
A ideia partiu do grupo de alunos que atua na linha de Saúde Indígena, mas logo foi abraçada pelos colegas da Atenção Cardiovascular e, também, por egressos do programa e por profissionais do hospital, que contribuíram com o envio de fotos.
Conforme a residente Renata de Matos Vicente, uma das articuladoras da exposição, a ação pretende conscientizar a comunidade hospitalar, de maneira simples e objetiva, a fim de proporcionar um cuidado igualitário, humanizado e livre de preconceitos. “Como o Dia do Índio é lembrado em 19 de abril, aproveitamos a oportunidade para montar o mural e suscitar a reflexão em quem passar por ele”, diz, referindo-se ao coletivo de fotos e frases que ficará exposto até o fim da semana no hall dos relógios de ponto, próximo à entrada de colaboradores.
Renata, que é nutricionista e está no segundo ano da Residência Multiprofissional em Saúde, explica que a experiência de estar com a população indígena, dentro de seu território, conhecendo suas crenças, realidades e culturas, trabalhando com profissionais índios e não-índios, que lutam pela causa, é completamente modificador, tanto profissional quanto pessoalmente. “Nada é mais transformador que vivenciar a realidade do outro e desenvolver empatia por ele”, afirma.
Desmitificação de estereótipos
Iniciada em 2010, a Residência Multiprofissional em Saúde atualmente é parte dos Programas de Residência em Área Profissional de Saúde, criados de acordo com princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), a partir de necessidades e realidades locais e regionais. Todos os anos, no HU-UFGD, seis novos residentes com formação em Enfermagem, Nutrição e Psicologia ingressam na área de concentração voltada à Saúde Indígena.
Com aproximadamente 17 mil indígenas, a região da Grande Dourados abriga três etnias: Guarani-Nhandeva, Guarani-Kaoiwá e Terena. Mesmo assim, a falta de conhecimento e de compreensão sobre a cultura destes povos culmina em esteriótipos que levam a condutas inadequadas por parte de outros setores da sociedade, incluindo os profissionais que atuam na área da saúde.
Renata aponta que a informação e a educação continuada são caminhos que possibilitam a quebra desse comportamento preconceituoso. “É um processo gradual, que se inicia com a prática do respeito pelo outro, perpassa a desmistificação dos estereótipos de raça e se conclui com o entendimento de que o mais importante é ser humano, independentemente de qualquer diferença”, esclarece.
Os profissionais especializados em Saúde Indígena, além de possuírem a base teórica, têm em sua formação maior contato prático com essa população, tanto no ambiente hospitalar, quanto no território indígena. “Há um olhar especial nos atendimentos, uma assistência mais específica, na qual são adaptadas a linguagem e os hábitos, sempre que possível”, finaliza a residente.