A equipe da Gerência de Desenvolvimento de Atividades Artesanais da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS) esteve na manhã desta quarta-feira (16) na aldeia Ofayé para emitir carteira do artesão para os trabalhadores que há três anos iniciaram trabalhos em estamparia e bordados para expressar a arte de seu povo por meio do artesanato. Foram cadastrados 11 artesãos, que a partir de agora podem ter mais oportunidades para comercializar seus produtos e ter mais dignidade e reconhecimento com a atividade do artesanato.
A comunidade iniciou os trabalhos em estamparia em 2014, com o incentivo da Fibria, não só para valorizar a história e os costumes dos Ofayé, mas também para expressar a memória cultural desse povo. Antes de confeccionar as peças, entretanto, foi necessário um levantamento cultural dos costumes Ofayé e, para isso, a fábrica de celulose contou com a consultoria do antropólogo Carlos Alberto Dutra, contratado para assessorar com acervos e registros étnico-culturais e iconográficos que foram utilizados como referência na elaboração do projeto de artesanato indígena, feito pelo designer têxtil Renato Imbroísi, profissional reconhecido internacionalmente pelo desenvolvimento de trabalhos com diversas nações indígenas do Brasil e povos do exterior.
Desde então, o artesanato produzido pelos indígenas da aldeia, com o apoio da FCMS, da Casa do Artesão de Três Lagoas, da Diretoria de Cultura deste município e da Fibria Papel e Celulose, tem participado de exposições locais e nacionais. Uma delas foi o X Salão de Artesanato de Brasília, que ocorreu de 4 e 8 de abril deste ano. Foram enviadas 117 peças, das quais 108 foram vendidas, entre jogos americanos, caminhos de mesa, capas de almofadas, bolsas dupla face e toalhas. As técnicas utilizadas são de pintura artesanal com estampas feitas de carimbo e stencil e bordados, com ícones representativos da cultura Ofayé, como folhas, animais, nomes em Ofayé e grafismos.
A partir deste ano a Casa do Artesão de Três Lagoas recebe a exposição permanente de artesanato da cultura Ofayé. Essa é a primeira vez que o município recebe a exposição, que tem como objetivo oferecer uma nova alternativa de renda e fortalecer a cultura da única etnia Ofayé registrada no mundo, localizada na cidade da Brasilândia. A Casa do Artesão se tornou o primeiro ponto permanente de comercialização do artesanato Ofayé em Mato Grosso do Sul, que será abastecida periodicamente com novas peças conforme o fluxo de vendas.
A Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul esteve na aldeia para emitir a Carteira Nacional do Artesão a estes artistas, muitos dos quais têm na atividade sua maior fonte de renda. Neuza da Silva, 58 anos, é mãe do cacique, Marcelo, e conta que muitas vezes veio gente na aldeia para adquirir os produtos feitos pela comunidade. “Tem vezes que vem gente aqui, mas vendo mais por encomenda. Produzo três peças por mês, o que mais demora é bordar. Gosto muito de bordar, de estampar. Para mim foi muito bom começar com esta atividade, porque fazendo alguma coisa a gente não fica pensando em coisas erradas. Antes eu ficava estressada, nervosa, agora não, porque o trabalho me entretém. Eu melhorei até a minha saúde”.
Fernanda da Silva de Souza, 21 anos, já trabalhava com artesanato antes do projeto que trouxe o designer têxtil Renato Imbroísi para a aldeia. Ela fazia colares e brincos, e agora também produz trabalhos em tecido. Fernanda vai este ano ao Festival América do Sul Pantanal pela primeira vez para expor e comercializar seus produtos. “O nosso professor Renato manda pra gente de São Paulo a matéria-prima e a gente produz as peças aqui, no Centro Comunitário da aldeia. O que mudou para nós é que, além de uma renda a mais, o artesanato resgatou a nossa cultura, que tinha se perdido há muito tempo. O Ofayé vive da caça e pesca, só da fauna e flora, e isso a gente expressa nos desenhos, nas pinturas. Faço isso porque é o que eu vejo na natureza. Minha expectativa para o Festival América do Sul Pantanal é ter mais conhecimento, mostrar nosso trabalho e mostrar o que se tinha perdido e foi encontrado com os nossos produtos”.
Rosilene Vilhalva, 34 anos, nunca tinha feito artesanato, “nem sabia bordar”. O que ela mais gosta é fazer bordados coloridos e o artesanato proporcionou a ela uma renda mensal. “Eu não tenho salário, não tenho quem me ajuda, isso aqui é o que me salva. Eu me sinto bem, a gente esquece os problemas, gosto muito de fazer. Com a carteira do artesão, as pessoas vão me conhecer como artesã. As pessoas não acreditam quando você fala que é artesã. Agora eu tenho um documento”.
Para a gerente de Desenvolvimento de Atividades Artesanais da FCMS, Katienka Klain, é muito gratificante ir até a aldeia para emitir a Carteira do Artesão. “É dar acesso às Políticas Públicas, que é um direito de todos. É muito bom poder atender a uma população isolada. Agora eles têm uma atividade que gera renda, as pessoas podem viver do artesanato, e é um resgate cultural também”. O gerente da Casa do Artesão de Três Lagoas, Eduardo Nakamura, apoia: “A Casa do Artesão está fazendo esta logística toda pela aldeia se localizar em Brasilândia. Trazemos os produtos da aldeia e levamos para a cidade”.
Quem quiser conhecer o trabalho dos índios Ofayé e obter lindas peças de artesanato, pode fazer uma visita à Casa do Artesão, em Três Lagoas.