A deputada estadual Chirley Pankara afirma que teve seu cocar confiscado ao aterrissar na noite desta segunda-feira, 3, em Genebra, onde ela participa de um evento internacional sobre gênero e cidades. Eleita pela Bancada Ativista, ela é apresentada por sua plataforma política como “a primeira indígena eleita na história de São Paulo“.
De acordo com os documentos que foram entregues a ela pela polícia local, a Aduana Suíça indica que a irregularidade foi o acesso ao país de um material com penas de aves nativas. A suposta violação se refere “à circulação de espécies de fauna e flora protegidas”.
Ao Estado, ela explicou que foi alvo de uma abordagem “abusiva”. Nas redes sociais, ela ainda alertou que dificilmente isso teria ocorrido com uma pessoa “loira” e alertou que seu cocar é um patrimônio imaterial que lhe da “força, carregada de valores espirituais”.
Sem conseguir entender o que ocorria, ela foi retida por alguns instantes, enquanto seu cocar e colares foram retirados. Ela ainda indica que assinou documentos sem entender o que estava escrito.
Nas redes sociais, a Bancada Ativista também se manifestou. “Para uma indígena, o cocar é parte central de sua cultura e de sua identidade. Confiscar um cocar é confiscar um direito de existir”, indicou.
“Infelizmente esse não é um fato isolado: são inúmeros os relatos não só de indígenas, mas também representantes de muitos outros grupos discriminados que acabam sendo recebidos assim ao chegarem em outros países”, apontam.
“Triste contradição: uma indígena eleita, que viaja para representar seu povo, ser recebida dessa maneira na cidade que se apresenta como centro da diplomacia mundial”, atacaram.
Em Genebra, ela irá usar o evento na Maison de la Paix (Casa da Paz) para contar sua história e a história dos povos indígenas.
“Ela falará sobre como o caminho que temos para mudar essa realidade é fortalecer a ocupação das ruas e da política com o nosso ativismo”, indicou sua bancada..
O Estado entrou em contato com os serviços de alfândega da Suíça. Mas por enquanto não teve respostas sobre o motivo do confisco e nem se o cocar será devolvido. ONGs brasileiras atuando com direitos indígenas indicaram ao Estado que, ao longo dos últimos anos, os confiscos de cocar tem se repetido, sempre com a mesma justificativa da circulação de um material feito co penas de aves nativas.