O que se sabe sobre desaparecimento de avião com indígenas no AM

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Este domingo (9) completa uma semana que o avião monomotor, de prefixo PT-RDZ, que transportava sete pessoas de uma família de índios Tiriyó, além do piloto, desapareceu na Floresta Amazônica. A viagem, que partiu no domingo (2) e fez a última comunicação às 12h06, foi contratada pelos indígenas para fazer o trajeto entre a aldeia Matawaré, no Parque do Tumucumaque, e o município amapaense de Laranjal do Jari. As buscas continuam.

A região é de difícil acesso e o transporte aéreo é a única forma de se chegar as aldeias. Em função da geografia da região, a maior parte do trajeto é feito em território paraense, pela cidade de Almeirim.

Local de sumiço de avião na Floresta Amazônica — Foto: Arte/G1
Local de sumiço de avião na Floresta Amazônica — Foto: Arte/G1

1º dia de buscas – confirmação do desaparecimento

A Fundação Nacional do Índio (Funai) confirmou o desaparecimento na segunda-feira (3). De acordo com o órgão, a provável área do desaparecimento do avião fica em Almerim, no Pará, a 23 quilômetros ao norte da aldeia Bona, que possui uma pista de pouso construída pela Força Aérea Brasileira (FAB) na década de 1960, e que poderia ser utilizada para pouso de emergência.

A FAB anunciou o início das buscas ao avião, que estão sendo feitas por uma aeronave C-130 coordenada pelo Salvaero de Manaus, no Amazonas. A rota compreende o ponto em que os radares identificaram a posição da aeronave desaparecida pela última vez e o local onde deveria ocorrer o pouso.

Perda de contato

Vinte e cinco minutos após sair da aldeia, o piloto disse a outro piloto da empresa que precisaria fazer um pouso de emergência. Foi a última comunicação. Os índios fazem o voo das aldeias até Laranjal do Jari e de lá fazem uma viagem de carro de cerca de 4 horas até Macapá.

 
Avião com indígenas cai em área isolada no Parque do Tumucumaque
Avião com indígenas cai em área isolada no Parque do Tumucumaque

2º dia de buscas – voo clandestino

No dia 4 de dezembro (terça-feira), a Funai caracterizou como “clandestino” o voo e informou que a aeronave transportava pelo menos sete indígenas. A falta de pistas autorizadas na região e a não comunicação da viagem, segundo a Funai, apontam a irregularidade.

Além do piloto, pelo menos sete indígenas estavam no voo, enquanto a capacidade máxima permitida seria de seis passageiros, de acordo com o registro do monomotor na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

“Parece que a palavra é forte, mas se um voo não é registrado na área de comando e controle do voo, ele é clandestino, não existe oficialmente. Uma busca cega, temos uma possível referência da área, de um polígono e se houvesse o registro a autoridade competente da Aeronáutica desse voo talvez as buscas tivessem alcançado sucesso e terem iniciado rapidamente ao primeiro sinal do sumiço da aeronave”, explicou Marcos Velho, chefe de gestão ambiental e territorial da Funai.

Até então, a Funai não havia confirmado a identidade dos indígenas e nem do piloto, assim como não divulgou o motivo da viagem.

 
 
Tempo chuvoso prejudica as buscas ao avião desaparecido na Amazônia
Tempo chuvoso prejudica as buscas ao avião desaparecido na Amazônia

3º dia de buscas – chuvas prejudicam buscas

4º dia de buscas – identificação dos passageiros

Na quinta-feira (6), a Funai confirmou identidades e disse que voo foi fretado para resolução de pendências bancárias e compra de alimentos em Macapá, no Amapá. Ao todo eram sete viajantes, além do piloto. A bordo estava uma família de índios Tiriyó: professor, esposa e três filhos, uma aposentada e o seu genro. Além do piloto, Jeziel Barbosa de Moura, que tem mais de 30 anos de experiência.

De acordo com Kutanan Waiana, da coordenação executiva da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Amapá e Norte do Pará, a contratação de pequenos aviões para transporte entre aldeias é comum na região, com viagens que custam entre R$ 3 mil e R$ 10 mil.

5º dia de buscas

A FAB dá sequência às buscas, mas não consegue identificar a aeronave.

Sataraki Akuriyó, filho de índia que vinha no voo para o Sul do Amapá — Foto: Rede Amazônica/Reprodução

Sataraki Akuriyó, filho de índia que vinha no voo para o Sul do Amapá — Foto: Rede Amazônica/Reprodução

6º dia de buscas – família de índios se pronunciam

Após seis dias sem notícias ou indícios, a tristeza e a aflição tomam conta dos parentes dos sete indígenas e do piloto do avião que está desaparecido. Em Macapá, numa casa de apoio para indígenas, está Sataraki Akuriyó, que acompanha pelo rádio as informações sobre as buscas, todas sem resposta. Ele é filho da passageira mais velha do voo, uma índia aposentada que viria para a capital para resolver pendências previdenciárias de rotina.

O filho aumentou a preocupação após receber informações de que as buscas poderiam ser suspensas. A FAB descartou a possibilidade e confirmou que a procura com a ajuda de um avião e um helicóptero prosseguem normalmente.

“Estão dizendo no rádio, que eles [FAB] querem parar as buscas. Quero que continuem até achar minha mãe e meu parente. Muito difícil falar disso, porque a única coisa que ouvi foi isso. Minha mãe não vou ver mais, por isso queria encontrar ao menos o avião ou o corpo falecido. Desde que eles caíram estou sofrendo muito”, limitou-se a dizer Akuriyó, bastante abalado.

 
Buscas são feitas por avião e helicóptero da Força Aérea Brasileira — Foto: Rede Amazônica/Reprodução
Buscas são feitas por avião e helicóptero da Força Aérea Brasileira — Foto: Rede Amazônica/Reprodução

Pistas de pouso irregulares

Para a Articulação dos Povos Indígenas do Amapá e Norte do Pará, a falta de regularização das pistas na região precariza a situação das viagens.

As mesmas pistas são usadas, além das viagens particulares, em voos para atendimentos de saúde e sociais, coordenados pelo Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei). A necessidade de regularização motivou uma ação do Ministério Público Federal (MPF) que exige da Anac a não cobrança para homologação desses espaços.

Em novembro, a Justiça Federal determinou que a Agencia Nacional de Aviação Civil (Anac) está impedida de cobrar taxas ou qualquer valor para registro ou regularização de pistas de pouso localizadas em áreas indígenas.

De acordo com o MPF, em todo o Brasil existem 249 pistas de pouso não regularizadas em terras indígenas. No Amapá são 17 pistas irregulares, usadas pro transporte de profissionais da saúde, da educação e dos próprios indíos.

O MPF calcula que os custos pra regularizar as pistas em terras indígenas girem em torno de R$ 11 milhões. A Funai e a Secretaria de Saúde Indígena alegam que não tem orçamento pra executar esses projetos.

7º dia de buscas

Em nota, a Força Aérea Brasileira (FAB) informou que, neste domingo (9), três aeronaves, incluindo um helicóptero, foram usados nas buscas. Elas percorrem a área que compreende o ponto em que os radares identificaram a posição da aeronave desaparecida pela última vez e o local onde deveria ocorrer o pouso. Sem localizar a aeronave, a FAB declarou que prossegue as buscas nesta segunda-feira (10).

 

G1/AP

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