Um amor avassalador fez a paulista Mailde Soares Pereira, 61 anos, trocar os prédios da Capital de São Paulo por uma aldeia indígena de Mato Grosso do Sul. Uma viagem que era apenas um passeio já dura quase três décadas.
Nascida no Estado de Minas Gerais, ainda criança, Mailde se mudou para São Paulo. ‘Paulista de coração’, ela ressalta ter um grande carinho pela cidade onde cresceu, estudou e trabalhou. Mas, apaixonada pela cultura indígena, hoje, a então dona de casa sempre teve um sonho de conhecer uma aldeia e, já adulta, resolveu realizar a viagem até a cidade de Miranda, regiaõ do pantanal em MS.
O ‘passeio’, que aconteceu na década de 80, teve como destino a aldeia Argola, local onde até os dias atuais a comunidade ainda preserva muito os costumes indígenas tradicionais. Mailde ficou encantada com as belezas naturais da região, mas não esperava que sua vida mudaria tanto.
Logo nos primeiros dias, Mailde conheceu o indígena Salvador Antônio, 64 anos, e foi amor à primeira vista. A paixão foi tão grande que ela não voltou mais para a cidade que cresceu. Em menos de quatro meses, a ‘paulista de coração’ já estava casada e vivendo costumes totalmente diferentes dos quais era acostumada.
“A princípio eu achei tudo muito lindo. Não conhecia um pé de manga e até um galho de árvore era diferente para mim, que vivia em uma cidade de pedra que é São Paulo. Adorei o lugar, me apaixonei, resolvi casar e ficar ali”, disse bem-humorada.
Com o passar do tempo, nem tudo foi flores. Os costumes passaram a incomodar a vida de Mailde, que precisou persistir muito para continuar casada.
“No começo era tudo muito legal, mas o que era novidade acaba não sendo mais. Sofri bastante para entrar no ritmo deles. Me lembro da dificuldade em conseguir acender um fogão a lenha e de equilibrar as bacias na cabeça. Morar muitas pessoas na mesma casa também era algo novo para mim, mas com o tempo tudo foi se encaixando”, lembrou.
Mailde conta que sua família pensou que ela tinha enlouquecido quando decidiu não voltar mais para São Paulo. Acostumada com a praticidade dos eletromésticos, umas das principais dificuldades foi lavar roupa nos açudes da aldeia e, detalhe, até jacaré tinha onde ela tomava banho.
“Me lembro que o lugar que lavávamos as roupas e tomávamos banho tinha jacarés e a gente precisava de muita atenção. Nossa, tudo, realmente tudo era muito diferente. O lugar era no meio da mata, quando queríamos ir até a cidade, precisávamos caminhar 12 quilômetros a pé com uma bacia na cabeça. Aprendi a dormir na rede e a culinária? Meu Deus, foi muito difícil me acostumar”, disse.
Hoje em dia, Mailde e Salvador deixaram a cidade de Miranda e vivem em Campo Grande, na aldeia Urbana Marçal de Souza. Casados há exatos 26 anos, ambos tiveram quatro filhos. Agora, com o marido deficiente visual após complicações de saúde, dona Mailde ajuda a família e é uma das principais representantes da comunidade indígena onde mora.
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