Mães indígenas lutam para não perder a guarda dos filhos

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Crédito: Agencia Pública
Por O Progresso

Na mais populosa reserva indígena do País, mães lutam para não perder os filhos para a violência, a fome, ou a guarda dos filhos em função do estado de vulnerabilidade. A violação de direitos, a falta de segurança e as drogas, continuam sendo barreiras.

Além disso o confinamento, a falta de perspectiva e a criminalidade adiam o sonho de muitas mães de verem seus filhos chegaram a fase adulta nas aldeias de Dourados. É o que mostra relatório “Violência contra os Povos Indígenas do Brasil – Dados 2018”, realizado pelo Cimi (Conselho Indigenista Missionário), que coloca o estado de Mato Grosso do Sul em 2º lugar em número de homicídios de indígenas.

Além disso, o estudo também aponta crescimento de 22,7% em mortes de indígenas em 2018. Outros números também surpreendem, como 22 tentativas de assassinato, 18 homicídios culposos, 15 episódios de violência sexual, 17 casos de racismo e discriminação étnico-racial, 14 ameaças diversas, 11 situações de abuso de poder e oito ameaças de morte naquele ano.
A Reserva Indígena de Dourados tem a maior concentração de população indígena do país, cerca de 17 mil habitantes.

Para o Ministério Público Federal, a população é tratada com “indiferença hostil”, fundada, na maioria das vezes, em motivos discriminatórios. Tal descaso estatal reflete nos índices de violência. Com base nos dados oficiais, entre 2012 e 2014, o Brasil teve taxa média de 29,2 homicídios por 100 mil habitantes. Em Mato Grosso do Sul, a taxa foi de 26,1. Entre os indígenas de MS este número sobe para 55,9. Já os indígenas da Reserva de Dourados enfrentam uma taxa de homicídios de 101,18 por cem mil habitantes.

Os indígenas da região de Dourados morrem por homicídio a uma taxa quase 400% superior aos não indígenas de MS.  A mesma reserva indígena já foi em 2007 alvo de centenas de casos de desnutrição severa, que tirou a vida de crianças, deixando mães desoladas.

Mãe conta os dias pelo abraço esperado há 4 anos

Lenir Flores 

São quatro anos de saudade que Lenir Paiva Flores Garcia, guarda no peito, após se separar do filho, que foi preso. Desde então o Dia das Mães para ela não é o mesmo. “Nós temos um apego muito grande com nossos filhos. Diferente de algumas culturas que abandonam, nós mães indígenas jamais teríamos coragem de expulsar um filho da nossa vida. Ele foi tomado dos meus braços, infelizmente pela violência. Está preso em Campo Grande, mas oro todos os dias para que ele consiga ser transferido para Dourados e eu possa receber meu abraço de presente do Dia das mães”, destaca.

Para Lenir, o maior desafio das mães indígenas é não ter os filhos arrancados dos braços pela violência. “Há muitas mães que perderam seus filhos para a fome, ou para o crime, que impera nas aldeias. Tenho fé que um dia nossos governantes irão olhar com mais carinho para as mães indígenas”, destaca Lenir, observando que devido a condição de vulnerabilidade social, muitas mães acabam perdendo a guarda de seus filhos.

É preciso superar o preconceito para vencer, diz mãe indígena

A professora terena Odaléia Reginaldo Faustino Souza, disse que o preconceito ainda é o principal desafio para vencer na Reserva Indígena de Dourados. Ela sabe disso porque viveu na pele.
“Muita gente acha que o índio não é capaz e que o lugar dele não é na universidade. Eu vivi isso, mas fui persistente. Me erguia sempre que tentavam me derrubar eu mostrava que o lugar de mulher indígena é onde ela quiser.  Me formei no magistério e hoje estou formando meus três filhos. O mais velho se formou em sistema de informação, o do meio em Direito e o caçula se prepara para o vestibular. Tudo isso porque somos persistentes e tento manter o diálogo em casa e muito amor”, destaca.

“Faltam oportunidades para as mães”

Teodora de Souza é uma professora terena de seis filhos. Acredita que a Educação é capaz de mudar vidas. Ao O PROGRESSO, contou que por ter acesso a escola não sofreu a mesma proporção daquelas mães que não tiveram oportunidade. Ela destaca que faltam iniciativas de gerar emprego e renda e um olhar mais atencioso as mulheres indígenas. “Não há com quem deixar os filhos para trabalhar porque nunca se pensou numa creche para as crianças das aldeias, a habitação é precária, faltam empregos, salas de aulas para os estudantes e uma política pública voltada para a formação continuada. Falta até água e alimentos. Tudo isso faz com que mães e filhos não tenham perspectivas de melhoras e isso contribui para a geração da violência. Espero que os próximos dias das mães sejam de notícias boas para as mães de nossa Reserva”, destaca.

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